ENTRE VIVOS E MORTOS" (Amy Mackinnon)

Na morte não há surpresas. O corpo frio, a sangria e a lenta transformação do cadáver em alguém familiar, tudo é conhecido e esperado. Clara é uma agente funerária que se sente melhor entre os mortos, mulher marcada pelo passado e que esconde terríveis segredos.

Um livro profundamente nebuloso, onde o grande desafio é a decisão de se viver entre os vivos ou entre os mortos. 

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Sob a luz bruxuleante das velas e ao som de Mozart, Clara inicia seu ritual já tão conhecido. Cuidadosamente banha os corpos e os prepara para o sepultamento. Não há beleza na morte, mas a dignidade pode, em parte, ser restabelecida. Longe daquele porão frio e desolado ela encontra conforto nas flores e refugio em sua quente e úmida estufa.

Um dia ela vê uma criança perambulando pela funerária, uma menina de cabelos escuros, pele pálida e em seu semblante está a marca da negligência. Que criança sentiria prazer em brincar em uma funerária?
A presença de Trace incomoda Clara, ela sente que a menina precisa de ajuda, mas não consegue se livrar de seus receios.
Preparar corpos relacionados a crimes é comum em sua profissão, mas ela não imaginava que um antigo caso de homicídio infantil voltasse à tona. Novas pistas levaram o detetive Mike Sullivan a pressionar Clara por alguma informação que ela pudesse ter negligenciado. Mas ela não quer importunar os mortos, nada pode trazê-los de volta.
A vida de Clara se complica ainda mais quando ela é chamada para remover o corpo de um homem em um edifício decadente. A exibição do vídeo que o falecido assistia ao morrer levou Clara ao desespero. Pornografia infantil... pedofilia e a vítima era a menina com o olhar vazio que frequentava a funerária, Trace. Tudo leva a crer que os dois casos estão ligados e a rotina de Clara é alterada irremediavelmente.

Devido à investigação Mike e Clara passam a se encontrar com mais frequência e a atração sexual entre ambos é inevitável. Mas Clara não podia deixá-lo se aproximar, ninguém entenderia sua dor e jamais poderiam descobrir seus segredos. Ele também fora marcado pelo passado e o remorso o consumia. Quanto mais lutavam para se afastarem maiores eram as forças que os atraíam.
Porém, em meio ao turbilhão de sentimentos e revelações, Clara deverá escolher entre os mortos e os vivos. 

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"Entre Vivos e Mortos" foi o primeiro livro escrito pela autora Amy Mackinnon. Um romance policial diferente, envolvido por uma aura sombria e sobrenatural, e que aprisiona o leitor em suas páginas.
Narrado em primeira pessoa, é sob o olhar de Clara que acompanhamos sua vida reclusa e solitária entre os mortos. Com uma escrita elegante e profunda, o livro muitas vezes nos deixa com um nó na garganta e aflitos ao conhecermos os conflitos de uma mulher com sentimentos fraturados.
As descrições detalhadas da remoção dos corpos, do último banho do cadáver, da preparação do corpo e principalmente do carinho com que Clara executa esses procedimentos são de encher os olhos. Realmente mexeu comigo.

Clara é uma mulher de caráter, que possui um profundo respeito pelos mortos e acredita que não devemos remexer no passado. Os mortos devem ser deixados em paz. Houve momentos que senti compaixão por Clara, mas também me senti incomodada com sua recusa em deixar sua "concha" de autopreservação.
O livro explora também um romance delicado entre duas pessoas marcadas por um passado traumático e que não sabem como lidar com as novas possibilidades que acabam surgindo.

Não é um livro leve, pelo contrário, muitas vezes ele é indigesto, mas que enternece, choca, atormenta e principalmente conquista o leitor desde o início.