“Durante anos corridos achei que minha briga fosse apenas com o tempo: aquele que me açoitou e parou para mim. Tenho a mesma idade há muitos anos, décadas que não cabem nos dedos…
Nos meus ciclos de vida tive várias mulheres. Mas só tive um amor. Leah. Que não vejo desde que o ano de 1824 foi gravado em todas as células do meu corpo. De tempos em tempos, ela aparecia estampada em outra mulher. Sem conseguir me lembrar de detalhes de seu rosto, eu reinventava seus traços, confundindo-os com os de amores mornos e paixões descartáveis. Sempre munido de constante esperança de encontrá-la; ou esquecê-la.”
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1824 foi um ano especial para Joaquim. Foi quando tomou conhecimento da independência do Brasil, ocorrida dois anos antes; e foi também quando sua vida mudou para sempre. Ele, um homem simples de 27 anos, vivia na ilha de Fernando de Noronha e trabalhava como reparador de embarcações. Em outubro daquele mesmo ano, após uma violenta tempestade, aportou em Fernando de Noronha o navio D. Januária. A nau foi avariada, e Joaquim ficou encarregado de seu conserto.
A bordo do D. Januária estava Leah – uma garota prestes a completar 17 anos – que estava indo morar em Lisboa, onde seu casamento com um nobre português havia sido acertado. Mas a promessa de um casamento por conveniência não atraia Leah. Ela amava o Brasil e não queria partir.
Em um encontro casual, ao som das ondas do mar, Joaquim caiu nos encantos de Leah. Uma paixão avassaladora nasceu, e eles sonharam com um futuro onde esse amor pudesse ser vivido. Mas o destino foi caprichoso e não permitiu que esse desejo se concretizasse.
Após uma noite secreta de amor, onde Leah se entregou de corpo e alma a Joaquim…o inimaginável aconteceu. Um corpo celeste rasgou o céu e mergulhou no fundo do mar. Uma estrela mágica que caiu ao lado do casal e mudou suas existências para todo o sempre. Naquela mesma noite, Leah foi levada embora e Joaquim descobriu que não podia mais morrer.
Separado de seu grande amor e sabendo que jamais a esqueceria, Joaquim decidiu que procuraria por Leah até o fim de seus dias. Durante sua Jornada, ele percorre o mundo à procura da mulher de sua vida.
Após 188 anos de busca… de paixões insignificantes, perdas, mágoas e vidas reinventadas, Joaquim ainda está sozinho. Porém, em uma noite de dezembro de 2012, a esperança de ter encontrado o objeto de sua espera renasceu. Uma mulher atravessou seu caminho, alguém que poderia provar que sua existência não fora em vão e trazer a certeza de que na verdade não há tempo perdido.
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“Livro de Joaquim” é o primeiro volume da série Tempo Perdido escrita por Laura Malin. Narrado em primeira pessoa, é sob o olhar de Joaquim que conhecemos a história de um amor profundo e imortal.
A narrativa de Laura Malin é belíssima…quase lírica, dando um ar elegante ao livro. A autora intercala os capítulos com eventos do presente e passado de Joaquim. Ao lado do protagonista vivenciamos os acontecimentos do presente e, através de suas lembranças, seu passado é pouco a pouco revelado. Ao longo do livro Joaquim é despido… suas loucuras, fraquezas, arrependimentos e paixões são reveladas aos olhos do leitor. Mesmo distante de Leah, Joaquim vive intensamente e, o fato dele nunca desistir de tentar ser feliz, o torna um personagem memorável.
Joaquim divide sua vida em ciclos e, cada um deles, é marcado por uma mulher que atravessou seu caminho e ocupou um lugarzinho em seu coração. Mas nenhuma delas conseguiu diminuir o vazio que sentia com a falta de Leah. Em cada etapa, seguimos sua eterna procura, desencontros e desilusões. É lindo ler sobre um amor assim, mas também é um pouco angustiante.
O segmento sobrenatural, representado pela imortalidade de Joaquim e Leah, é um toque atraente. Por meio dessa vida sem fim, somos levados em uma odisseia através do mundo; revisitamos acontecimentos históricos e sentimos na pele toda emoção que a busca de Joaquim transmite.
Porém, “Livro de Joaquim” não é para qualquer leitor. É um livro com uma linguagem escrita madura, onde a emoção está encerrada na história de amor descrita; e não em cenas cheias de afetação. É um romance com um ritmo brando e constante… não é uma história para ser devorada e, sim, degustada a cada página. “Livro de Joaquim” me encantou com sua exaltação aos sentimentos.
Malin, Laura. Livro de Joaquim. Agir, 2011. 352 p. (Tempo Perdido, Vol. 1)