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Digno de Nota

sexta-feira, 9 de março de 2012

“A RESPOSTA” (Kathryn Stockett)

Na década de 1960 o Mississippi, Estado sulista norte-americano, era um território atroz para os afro-americanos. Defensor fervoroso da segregação – o Mississippi foi palco de um lento e brutal processo de integração. Ativistas dos Movimentos dos Direitos Civis percorriam o país na luta contra a discriminação e exclusão social, mas grande parte da população sulista era contra tais movimentos. A supremacia branca ainda reinava por lá.
Sob esse cenário de intolerância – A Resposta – nos leva a Jackson, Mississippi, e acompanhamos a história de Skeeter, Aibileen e Minny – três protagonistas inesquecíveis…
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Eugênia Phelan, conhecida por todos em Jackson como Skeeter, sempre pensou em fazer algo relevante de sua vida. Enquanto suas amigas se espremiam dentro de corpetes e tinham encontros com rapazes, ela estudava com afinco na universidade Ole Miss. O verdadeiro sonho de Skeeter era um dia escrever algo que as pessoas realmente lessem.
Após se graduar na universidade, Skeeter retorna a Jackson e encontra as coisas um pouco diferentes. Constantine, a empregada negra que sempre esteve a seu lado, deixou o emprego sem ao menos se despedir dela. Enquanto sua mãe tenta convencê-la em arrumar um namorado, Skeeter ocupa seu tempo como editora do boletim da Liga de Jackson e se encontrando com suas amigas Elizabeth Leefolt e Hilly Holbrook no clube de bridge.
Mas Skeeter deseja um emprego de verdade e precisa começar por algum lugar... Pouco tempo depois ela assume uma coluna semanal de conselhos de limpeza no Jackson Journal. Mas Skeeter não entende nada do mundo das donas de casa e percebe que precisará de ajuda. Assim, mesmo contra a vontade de sua amiga Elizabeth, ela procura Aibileen para conseguir algumas dicas sobre limpeza.

Aibileen Clark é uma negra que já trabalhou para inúmeras famílias. O que sempre fez foi cuidar de bebês brancos e tudo o mais que tem a ver com limpeza e cozinha. Em toda sua vida ela já criou dezessete crianças, e agora cuida de Mae Mobley, a filhinha de dona Elizabeth Leefolt. Ela ainda sofre pela morte de seu filho, mas tenta conseguir consolo com o amor inocente que a nenezinha branca lhe oferece. Aibileen sabe que um dia a menina branca mudará e quer passar coisas boas para ela enquanto ainda há tempo. Quando a amiga de sua patroa pediu para ajudá-la a responder dúvidas sobre limpeza, Aibileen pensou que se aproximar de uma branca não seria uma boa ideia. Porém, foi ao conhecer dona Skeeter que sua vida e a de sua amiga Minny começaram a mudar…
Minny Jackson é casada com um homem violento e cria seus cinco filhos com dificuldade. Já entrou e saiu de vários empregos por causa de seu jeito atrevido. Minny não tem travas na língua e sempre solta algum desaforo a seus patrões. Ela só trabalha para mãe de dona Hilly porque a velha é surda e também porque é a melhor cozinheira de Jackson. Mas seus dotes culinários não a salvarão do ódio de Hilly Holbrook. Mais uma vez Minny foi demitida, mas dessa vez sua reputação estava em jogo. Difamada por Hilly, uma mulher extremamente racista, Minny não conseguia arrumar mais emprego na cidade. A única pessoa disposta a contratá-la foi Celia Foote, uma mulher excluída e considerada lixo branco pelas socialites da cidade.

A intolerância e o preconceito unem essas três mulheres em um objetivo comum. Aibileen e Minny querem gritar ao resto do país como é ser uma criada negra em um lar branco no Mississippi. Já Skeeter, está enojada com o racismo que presencia todos os dias. Ela sempre quis escrever algo relevante e encontrou na relação entre patroas brancas e suas empregadas negras o tema perfeito para um livro. Elas enfrentam o medo e os perigos que tal projeto representa e decidem que, juntas, seguirão em frente. Mas antes que esse sonho se concretize, muitos obstáculos deverão ser ultrapassados... e o primeiro deles é encontrar outras empregadas domésticas dispostas a arriscar a própria vida contando suas experiências.  
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A Resposta, romance de estreia da autora Kathryn Stocktt, foi uma das leituras mais gratificantes desse ano. Uma história comovente que atinge o leitor de várias formas. Kathryn Stocktt deu rosto e voz a mulheres comuns. 
Apesar do livro abordar assuntos indigestos, a história é um sopro de ar fresco. O motivo é simples… Sob o véu do racismo, A Resposta descreve uma história de esperança, força e amizade. Os problemas sociais são apenas o pano de fundo da trama e o que nos liga intimamente aos personagens são os dramas pessoais, a sensação de impotência, os anseios, o humor, os momentos de felicidade provocados por coisas simples, como: assar um bolo perfeito ou tomar uma xícara de café com as amigas.

A narrativa divide-se entre as três protagonistas e a escrita de Kathryn Stocktt é muito vívida e verdadeira. Os personagens são descritos de forma intimista, o que os torna inesquecíveis.

Skeeter é uma jovem branca de classe média, cuja família tradicionalista possui uma fazenda de algodão em Jackson. Ela percorre a tênue linha entre fazer parte da sociedade segregacionista ou demonstrar sua reprovação a esta política. Skeeter decide percorrer o caminho mais perigoso, porém sua motivação inicial me pareceu um tanto egoísta. Fiquei com a sensação de que ela decidiu escrever sobre o tema porque precisava de algo desafiador para ser publicado. Enfim…não sei se acredito na máxima de que “os fins justificam os meios”.

Aibileen é o retrato da empregada que sabe como se comportar com os patrões brancos. Ela é quieta, submissa e parece um tanto conformada com sua situação, mas ao longo do livro toda dor e amargura começam a sufocá-la e a necessidade de fazer algo a respeito se torna maior que o medo. Ao tomar conhecimento do projeto de Skeeter, Aibileen encontra uma oportunidade de falar por aqueles que não tem voz.

Agora, como o próprio livro descreve, “Minny é o pesadelo de toda patroa branca”. Ela é impulsiva, franca e não leva desaforo para casa. Porém, Minny não age dessa forma por ser dona de uma coragem impar, ela simplesmente é assim…espontânea. Em vários momentos o leitor presencia seus reais sentimentos; o medo do inesperado, a insegurança frente à violência doméstica e a incapacidade de entender um ato de bondade vindo de um branco. Para mim, Minny foi a personagem mais autêntica de A Resposta.

O livro só não é perfeito devido ao final indefinido. Apesar das protagonistas receberem mais atenção, o desfecho de suas histórias deixa muito a supor. Já os outros personagens não tiveram uma conclusão de fato. A autora deixou o caminho aberto para reflexões, mas isso me causou certa frustração. Ainda assim, A Resposta merece cinco estrelas. Leiam, porque o livro é maravilhoso!

Stockett, Kathryn. A resposta. Editora Bertrand, 2011. 574 p.
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