Ela vagava pelo castelo onde vivera por toda a vida… Parecia que Bela não acharia nada para fazer que já não tivesse feito mil vezes antes, mas, de repente, chega a seus ouvidos um som que não conseguia identificar.
Ela seguiu o som e, através de uma porta, viu uma mulher velha, feia e curvada, manejando um estranho instrumento. Era uma grande roda giratória com um fio de linha que se enrolava sobre um fuso…
Assim que Bela tocou naquela maravilhosa roda giratória, ela pareceu mergulhar num imenso desfalecimento…
– …durma, durma por cem anos!
Ela seguiu o som e, através de uma porta, viu uma mulher velha, feia e curvada, manejando um estranho instrumento. Era uma grande roda giratória com um fio de linha que se enrolava sobre um fuso…
Assim que Bela tocou naquela maravilhosa roda giratória, ela pareceu mergulhar num imenso desfalecimento…
– …durma, durma por cem anos!
Pág. 97, 98.
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Por toda sua vida, o príncipe ouvira a história da Bela Adormecida, a jovem enfeitiçada para dormir por cem anos, junto com seus pais e toda a corte, após furar o dedo em uma roca de fiar. Mas ele não acreditava nessa lenda até entrar no castelo e encontrar a princesa dormindo placidamente.
O desejo manifestou-se imediatamente, de forma quase dolorosa, quando viu a sensualidade da princesa Bela. Naquele momento, a excitação o instigava sem piedade…
Ele montou na princesa, separando sua pernas, e atravessou sua inocência. Enquanto se unia a ela, o príncipe a beijou. E, então, os olhos de Bela se abriram.
Por cem anos ela dormira e, agora, o príncipe a despertara do encantamento. Como recompensa, ele exigiu que Bela fosse entregue como tributo para lhe servir. A princesa seria sua escrava sexual e sua submissão total seria reivindicada.
Então, Bela é levada ao castelo do príncipe, onde seu treinamento é iniciado. Bela sente devoção pelo príncipe, mas não entende por que deve ser submetida a exibições públicas, espancamentos e humilhações. Ela é tratada como um animal, mas logo percebe que não adianta se rebelar. Os castigos para os escravos que não se submetem é terrível e, Bela, não quer sofrer mais do que o necessário.
Bela é exposta a uma vida de abusos e torturas constantes, mas com o passar do tempo a resignação se torna inevitável. Ela deve servir e proporcionar prazer a seus senhores de forma irrestrita, permitindo ser usada em jogos sexuais e também submetendo-se a punições.
Os castigos impostos passam a fazer parte da vida de Bela, e a princesa começa a ansiar pelos tormentos impostos pelo príncipe. A excitação torna-se seu ponto fraco, pois ela não consegue controlar os desejos de seu próprio corpo. Bela se questiona, porque seu corpo anseia por agradar o príncipe através do sofrimento físico enquanto seu coração pede para rebelar-se?
Enquanto tenta provar sua total entrega e dedicação, Bela se encanta por outro escravo, o príncipe Alexi. Com ele, o medo se torna algo fugaz e Bela vacila ao submeter-se a seu senhor. Um erro terrível, cuja punição é a mais temida pelos escravos do reino.
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Os Desejos da Bela Adormecida é o primeiro volume da Trilogia Erótica de Anne Rice, escrevendo sob o pseudônimo de A. N. Roquelaure. O livro é exatamente isso…erótico. Não é um romance sensual onde o sadomasoquismo é introduzido com o objetivo de apimentar a relação. O sexo é explícito, pesado, degradante e sem romantismo. Encontramos o sadismo na sua forma mais crua. Na verdade, o sexo abordado no livro é repleto de perversão, apresentando uma face até então obscura - pelo menos para mim - das preferências sexuais com troca de poder e fetiches. O prazer e a dor estão intimamente ligados na obra de Anne Rice. Não é algo confortável de se ler, o livro trouxe-me sentimentos contraditórios.
Punir para alquebrar o espírito dos escravos é algo rotineiro e aceito como "normal" no reino do príncipe. A devoção e total obediência são exigidas incondicionalmente pelo dominador. Um detalhe curioso é que os escravos são todos membros da realeza de outras cortes, príncipes e princesas que são doados como tributos para o reino do príncipe herdeiro. Estranho e pouco crível.
A obra é ousadíssima, pois retrata o relacionamento entre senhor e escravo sexual de forma pungente. Gostei da insolência da autora, Os Desejos da Bela Adormecida é uma afronta aos puritanos de plantão. A surpresa também foi algo que me agradou, pois nunca havia lido uma obra do gênero. Entretanto, achei os castigos apresentados excessivos demais. Surras, torturas e humilhações transbordam pelas páginas. Esse comportamento – a prática de flagelar os escravos – não fez sentido para mim, pois a trama não aborda de forma satisfatória esse costume da corte do príncipe. Infelizmente, a trama é rasa e construída voltada totalmente para o BDSM.
Na metade final do livro o leitor vislumbra um pouco de romance e paixão. Mas não vou me iludir achando que a autora irá diminuir a carga de sadomasoquismo no segundo volume. Ao final de Os Desejos da Bela Adormecida, Anne Rice deixou algumas pistas de que a continuação pode ser ainda mais intensa. O nome já diz muita coisa, A Punição da Bela.
É óbvio que a Trilogia Erótica não é para qualquer leitor. Sexo, sodomia, depravação e espancamentos estão presentes do início ao fim, e isso é algo que perturbará muitos leitores. A pessoa que se propor a lê-lo deve estar com a mente livre de preconceitos e tabus; e ter certa agudeza de sentidos para acolher preferências sexuais diferentes e fora dos padrões comuns. Confesso que ainda estou dividida sobre meus sentimentos em relação ao livro.
Rice, Anne. Os Desejos da Bela Adormecida. Rocco, 2012. 349 p. (Trilogia Erótica, Vol. 1)