“Talvez a natureza tenha preferido apagar as lembranças dos nossos primeiros instantes e nos proteger, proibindo a lembrança dos sofrimentos passados no percurso para a posse da vida… Muitas vezes me pergunto o que seria da humanidade se compreendêssemos realmente esse processo. O homem se acharia um deus?… Que respeito teríamos pela vida desvendando o mistério de sua criação?”
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Keira passou os últimos três anos comandando uma escavação no Vale do Olmo, Etiópia. A arqueologia não era apenas sua profissão, era uma paixão. Sua meta é encontrar vestígios do primeiro homem a andar sobre a terra… O pai de toda humanidade. Mas o destino havia reservado outros planos para ela. Todo seu trabalho foi varrido por uma tempestade de areia, alterando o rumo de sua vida para sempre.Sem dinheiro ou descobertas que justificassem um refinanciamento da pesquisa, Keira foi obrigada a retornar para a Europa. Não foram apenas seus sonhos que se perderam no Vale do Olmo, ela também deixara para trás um amigo... Harry, um garoto órfão que conquistou seu coração. Mas Keira trazia em seu pescoço uma lembrança de Harry, uma rocha vulcânica transformada em pingente que ganhara do garoto etíope.
Em Londres, outro cientista também enfrenta o fracasso de seu último projeto. Adrian é um astrônomo que procura respostas para a pergunta que o persegue desde a infância: Onde começa a aurora? Ele busca a primeira estrela a brilhar, aquela que surgiu ao nascer do Universo.
Durante a disputa de uma bolsa para pesquisa, Adrian reencontra uma antiga paixão… Keira. Ao visitar a casa de Adrian, a arqueóloga esquece lá seu pingente. O interesse científico do astrônomo é despertado pela misteriosa joia, pois ele descobre que a rocha possui uma capacidade incomum.
Logo, Adrian e Keira percebem que não são os únicos interessados no artefato. Unidos por esse mistério, eles embarcam em uma viagem que os levará numa emocionante aventura.
Adrian e Keira pensavam buscar coisas diferentes, mas ao longo do caminho descobrem que sempre procuraram respostas para mesma questão… qual a origem da criação?
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“O Primeiro Dia”, do francês Marc Levy, marca o início da nova série de aventura do autor. Adoro histórias com artefatos místicos que escondem segredos milenares, conspirações, arqueologia, ciência e uma corrida contra o tempo para desvendar o mistério. Apesar de explorar as características dos thrillers de suspense, o autor não conseguiu me empolgar com sua história.Levy escreve bem, mas seu estilo de narração não contribui para a agilidade necessária em um thriller. Seu texto é rico em detalhes, descrições e divagações. Foi o que aconteceu em O Primeiro Dia. Levy enrola um pouco para desenvolver o assunto relacionado ao misterioso pingente. No início, ele dá mais ênfase ao cotidiano e reflexões de Adrian e Keira. Após alguns capítulos o ritmo melhora, mas o pensamento dos personagens continuam divagando e, muitas vezes, sem conexão com o assunto do momento.
Adrian é descrito como um homem delicado e sensível na intimidade. Ele é um excelente profissional e sua paixão pela astronomia é palpável. Agora, Keira, me deixou com uma impressão ruim. A personagem é tão ambiciosa que acaba se tornando egoísta. Mulher fria, indelicada e grosseira. O romance tinha tudo para dar certo, mas não há química entre o casal. São perfeitos como profissionais que se complementam na busca do segredo, mas como casal romântico são insípidos. Os personagens secundários são infinitamente mais carismáticos e interessantes que Keira e Adrian juntos.
Os protagonistas são lançados em uma busca muito interessante, mas no decorrer da aventura comecei a me sentir desmotivada. O principal motivo para eu ter “esfriado” foi a falta de desafios no enredo. Os personagens desvendam os enigmas com muita facilidade e qualquer obstáculo que encontram ao longo do caminho é rapidamente ultrapassado. Quando precisa encontrar uma saída para os personagens, Levy simplesmente dá um "jeitinho" de solucionar o problema.
Por outro lado, adorei a forma como a trama foi conduzida. Adrian é quem nos conta a história através da transcrição de seu diário. Os capítulos narrados em primeira pessoa apresentam os fatos sob o ponto de vista pessoal de Adrian. Já os demais capítulos – também narrados por Adrian, porém em terceira pessoa – apresentam os eventos relacionados a Keira e outros personagens.
Apesar de ter ficado com a sensação de que faltou alguma coisa, O Primeiro Dia não deixou de ser uma boa aventura. Os melhores elementos dos thrillers de suspense estão presentes, apenas de forma um pouco mais acanhada.
Levy, Marc. O Primeiro Dia. Suma de Letras, 2012. 367 p. (O Primeiro Dia, Vol. 1)