"Às vezes, a loucura não é o pior da vida…
Às vezes, o pior é a crença de que a loucura tem cura".
P. 169-170
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Existem dezessete manicômios na cidade de Lovecraft, e Aoife Grayson visitou todos. Sua mãe é uma das pessoas “dizimada viralmente", infectada pelo necrovírus. Assim, Aoife e seu irmão se tornaram tutelados pelo Estado e estudam na Escola de Mecânica por caridade.Mas Aoife carrega uma maldição… Sua família possui uma infecção latente. Tanto a mãe como o irmão, Conrad, ficaram loucos ao completar 16 anos. Aoife sente que seu relógio biológico está correndo, pois logo também completará 16 anos. O tempo está acabando, mas ela quer fingir que seu destino pode ser diferente.
Antes que o necrovírus tivesse aparecido e começado sua disseminação pelo globo, os loucos supostamente poderiam melhorar. Agora, essa esperança não existe mais. O mundo também não é mais o mesmo, criaturas imundas vagam pela noite prontas para transmitir o vírus da loucura.
Para proteger a cidade contra as criaturas heréticas, os fiscais da Casa dos Corvos de Lovecraft vigiam a população com mãos de ferro, esmagando qualquer resistência à sua ordem. Ao receber uma misteriosa carta, Aoife será lançada no caminho da heresia proibida.
A carta diz apenas… “Encontre o alfabeto da bruxa. Salve sua vida".
Aoife sabe que a carta é de Conrad, mas desde que seu irmão perdeu a razão ela nunca mais o viu. Será essa a mensagem de um louco ou um aviso de um ente preocupado? Para Aiofe não importa, ela jamais abandonará Conrad, louco ou são, pois ele é tudo que lhe resta.
Para manter acesa a esperança de uma vida normal, Aoife precisa encontrar o irmão e conferir com seus próprios olhos se ele está curado ou não. Mas para isso, ela terá que sair de Lovecraft e infringir as leis do governo. Ao lado de Deam – um carismático herético – e de seu melhor amigo Cal, Aoife se aventurará num mundo repleto de perigos, criaturas da noite e sombrios segredos de família.
Sua vida e de seus amigos serão colocadas em risco, mas Aoife não pode permitir que sua mente sucumba ao necrovírus. Tudo vale a pena em nome razão.
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Espinho de Ferro é o primeiro volume da trilogia Código de Ferro de Caitlin Kittredge. A autora brinca com vários gêneros literários, mesclando os estilos steampunk, distopia e sobrenatural. Uma aposta original, que tornou a história muito interessante e peculiar.Não esperava uma trama tão cheia de pormenores e, menos ainda, um enredo que me causasse estranheza. Confesso que tive altos e baixos no decorrer da história, mas tudo causado pelas incertezas que a autora faz questão de manter até o final do livro.
A atmosfera de Espinho de Ferro é lúgubre, pois somos inseridos num universo de temor e insegurança. A história é ambientada em Massachusetts na década de 1950, porém com uma tecnologia mais avançada. As características steampunk são apresentadas na forma de autômatos, animais mecânicos e o Éter como espécie de combustível. Mesclado a isso, os personagens vivem num mundo deslocado, cujo costumes, crenças e ideias políticas foram alteradas após a erupção do necrovírus. É nesse ponto que reside o toque distópico da trama. Mas isso não é tudo, também temos a presença do sobrenatural.
Não vou entrar em detalhes sobre o necrovírus, pois esse assunto foi o que me causou mais dúvidas e acredito que o leitor deva descobrir os mistérios por si só.
Ler sobre possíveis doenças e epidemias, que acabam transformando o modo de vida das pessoas, me levam a inúmeros questionamentos. Fico extremamente frustrada quando não consigo respostas satisfatórias. Mal de profissional da saúde. A sensação de que faltava alguma coisa na trama foi uma constante, havia também elementos mal explicados ou que não fizeram muito sentido para mim. Estava descontente, mas não consegui largar o livro. Vai entender…
Próximo ao desfecho, Caitlin Kittredge conseguiu me surpreender. Tudo aquilo que parecia fora do lugar e desconexo, começou a fazer sentido. Foi de propósito, só pode! Sem falar na bomba que autora joga no colo do leitor no final, uma revelação que me deixou “bege”. rsrs
Ao fechar Espinho de Ferro, fiquei pensando se toda frustração que senti valeu a pena. Sim, valeu. Pois as revelações no desfecho sanaram minhas dúvidas e me deixaram curiosa pela continuação.
Kittredge, Caitlin. Espinho de Ferro. Rocco, 2012. 520 p. (Código de Ferro, Vol. 1)