"Matar a sangue-frio não é um ato fácil. É preciso controlar suas pulsões, combater o que a sociedade, religião e consciência proíbem. Recalcar os próprios fundamentos do espírito humano. Mas eles tinham eliminado, retirado os olhos e estripado um homem… Que tipo de desajustado escondia-se por trás daquele crime? Qual a sua motivação para transgredir os limites àquele ponto?"
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Ludovic Sénéchal – um apaixonado por cinema e colecionador de filmes antigos – fica cego após assistir um curta-metragem que acabara de adquirir. Em pânico, ele liga aleatoriamente para um dos contatos gravados em seu celular e pede ajuda. Quando Lucie Henebelle, tenente de polícia em Lille, atendeu ao telefonema de Ludovic não imaginava o quão estranho seriam os acontecimentos que se desdobrariam.Os médicos não encontraram nenhuma alteração física que justificasse a cegueira e o problema foi diagnosticado como “cegueira histérica”. Mas Ludovic está convencido que perdeu a visão por causa do maldito filme. Ele pede para que Lucie leve o rolo para um especialista dissecá-lo e ver se encontra alguma coisa estranha nas imagens. Lucie não acredita nessa hipótese e decide assistir ao filme. Então, ela se depara com algo doentio.
Paralelamente, o comissário Franck Sharko – veterano da Divisão de Homicídios e analista comportamental na Divisão de Repressão à Violência – é designado para traçar um perfil sobre o novo caso da cidade de Nanterre. Cinco corpos foram enterrados dois metros abaixo da superfície do solo, estavam em avançado estado de decomposição e em todos a parte superior do crânio fora cuidadosamente serrada, o cérebro e globos oculares extirpados, arcaria dentária destruída e mãos decepadas.
Enquanto Lucie investiga a origem do rolo e descobre horrores ainda maiores contidos no filme, um misterioso informante do Canadá aponta uma ligação entre o curta-metragem e o caso dos cinco cadáveres de Nanterre. Com essa nova descoberta, Sharko e Lucie passam a trabalhar juntos e a investigar todos os ramos possíveis do caso.
Sharko descobre um caso semelhante no Egito, e é na cidade do Cairo que ele ouve pela primeira vez sobre a Síndrome E. Mas é no Canadá que Lucie e Sharko descobrirão a verdadeira face do mal. Uma trama sombria, que revela as maiores atrocidades cometidas pelo ser humano…
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“A Síndrome E do autor francês Franck Thilliez – terceiro livro protagonizado por Franck Sharko – é um thriller policial estarrecedor. O impacto emocional que A Síndrome E provocou em mim, principalmente na primeira metade do livro, foi algo perturbador. Confesso que me senti apreensiva, não só pela presença de cenas de violência e barbárie, mas porque a trama mexe com psicológico do leitor e – de certa forma – somos impelidos a refletir sobre temas perturbadores. O que me deixou inquieta foi perceber o quanto nossa mente é vulnerável a influências externas e que o tal “livre arbítrio” pode ser manipulado. Isso assusta!O enredo de A Síndrome E foi inspirado em fatos reais, e fico toda arrepiada só de imaginar que os horrores descritos no livro realmente aconteceram.
A história gira em torno de um misterioso curta-metragem, cuja existência está deixando um rastro de corpos e seu conteúdo desafia a compreensão da polícia. Foi justamente a descrição desse filme que me deixou com os nervos à flor da pele. Enquanto as imagens da película eram “dissecadas” na história, eu ia ficando cada vez mais abalada com seu conteúdo. As cenas são bizarras…
O texto é ágil, e mesmo com um enredo tão intrincado, o autor não faz da narrativa algo didático. Fiquei colada às páginas do início ao fim. A construção dos personagens é muito singular, mas de uma forma positiva. O comissário Franck Sharko é um poço de contradição. Sua função é fazer uma análise comportamental e traçar um perfil psicológico de criminosos, porém – por uma ironia da vida – Sharko é esquizofrênico. Durante a leitura acompanhamos a luta de Sharko para manter a sanidade, e não deixar que seus distúrbios mentais influenciem seu trabalho. Uma tarefa difícil. Apesar de todos os problemas, Sharko não perde o “jogo de cintura”. É inteligente, sagaz, irônico e possui uma personalidade um tanto irascível.
Já Lucie, é uma mulher solitária, mãe de gêmeas e trava uma constante batalha interna por não conseguir administrar bem o fato de ter que dividir sua atenção entre o trabalho e a vida familiar.
Aqui abro um parêntese… não ter lido os livros anteriores protagonizados por Sharko deixou uma lacuna no enredo em relação a seus problemas psiquiátricos, pois não sabemos com exatidão a sequência de eventos que deflagraram o distúrbio. Apesar do autor dar uma breve descrição do que aconteceu em seu passado traumático, eu percebi que faltaram detalhes importantes. Fica claro ao leitor que o desajuste psiquiátrico e emocional de Sharko tem um fundo muito mais complexo do que foi exposto nesse livro.
As informações sobre a série estão desencontradas, pois os sites internacionais apontam A Síndrome E como o livro 3 da série Franck Sharko, (os anteriores são: 1- Train d'enfer pour Ange rouge e 2- Deuils de miel) e pelo que pesquisei o autor também escreveu dois livros anteriores com a Lucie Henebelle (1- La chambre des morts e 2- La mémoire fantôme), porém é o primeiro livro onde ambos trabalham juntos. Poderia ser uma série dentro de outra série, já vi muito esse tipo de divisão entre thrillers policiais. A editora Intrínseca considera o livro como o primeiro de uma nova trilogia.
Independente da controvérsia sobre a ordem oficial da série, por motivo algum eu perderia a oportunidade de ler A Síndrome E, pois o livro é simplesmente sensacional!
Os temas discutidos, a construção dos personagens e o desenvolvimento da investigação denotam o quanto o livro de Thilliez é complexo e bem traçado.
Em uma enxurrada de publicações “mais ou menos” que andam lançando por aí, A Síndrome E superou todas as minhas expectativas. Entrou disparado para minha lista como um dos melhores thrillers policiais que já tive o prazer de ler.
Thilliez, Franck. A Síndrome E. Intrínseca, 2013. 368 p. (Franck Sharko, Vol. 3)