“A manteiga, que tinha um sabor triste. Quando olhei a embalagem, li que aquela manteiga vinha de uma grande fazenda em Wisconsin. O requeijão era delgado, como se tivesse algo de muito metálico depois de saboreado. O leite, cansado. Todas aquelas partes distantes, amontoadas como o barulho distante de um avião ou de um carro estacionando, tudo pairava ao fundo, ofuscado pelo estado de espírito de quem preparava a comida.”
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Sinopse:Rose Edelstein é uma menina que descobriu ter um talento incomum: ela sente o sabor das emoções das pessoas que preparam aquilo que come. E tudo começou semanas antes de seu aniversário quando, depois de uma briga com seu pai, sua mãe resolveu fazer um delicioso bolo de limão.
Imagine o que você faria se seu paladar pudesse decifrar o gosto das emoções? É com isso que Rose tem de conviver daqui para frente. Com apenas nove anos, a curiosa menina sabe o que cada um sente secretamente e percebe que nunca mais comerá seus pratos preferidos do mesmo jeito. E o que ela pode fazer para lidar com isso?
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Iniciar uma leitura com expectativas erradas, é garatia de desapontamento. E foi o que aconteceu com “A Peculiar Tristeza Guardada Num Bolo de Limão” de Aimee Bender. Quando li a sinopse do livro, imaginei que o livro seria uma experiência sensorial única. Afinal, Rose – nossa protagonista – possui um talento diferente e que dá margem para uma abordagem bem interessante. Na trama, ela não só sente o “sabor” das emoções das pessoas que prepararam a comida, mas também consegue rastrear a origem de seus ingredientes. Por exemplo, Rose é capaz de dizer o Estado em que os vegetais foram cultivados ou a procedência da carne que está provando.Um tema ousado, que se bem desenvolvido seria excelente. Porém, o enredo deixou a desejar. A princípio o livro dá indícios de que abordará certo conjunto de assuntos, porém nenhum deles é explorado de modo satisfatório. A história começa quando Rose está prestes a fazer 9 anos e termina quando está com 22 anos. Assim, acompanhamos o crescimento físico da protagonista, porém seu amadurecimento em relação a sua habilidade e como ela aprende a lidar com isso, é desenvolvido de modo superficial.
As sensações de Rose são sempre angustiantes. As emoções que ela “prova” ao se alimentar estão ligadas à tristeza, egoísmo, ódio, solidão, etc. A autora não proporciona ao leitor uma experiência com sentimentos de contentamento através da protagonista. É muito deprimente. A criança alegre que conhecemos no início livro, se transforma numa jovem amarga. Não é para menos, todas as suas refeições são um ataque de sentimentos ruins.
A narrativa de Aimee Bender possui um tom melancólico e, a partir de certo ponto, a autora começa a divagar e a história torna-se arrastada e cansativa. Na verdade, o foco da trama é desviado de Rose e seu talento para se concentrar em questões familiares… Sua mãe triste e vazia, seu pai distante e conformado, e seu irmão recluso que é um gênio da física e matemática. Agora, a história perdeu o propósito quando Aimee Bender conferiu também a Joseph – irmão de Rose – um talento bizarro. Nesse ponto a autora descambou para o absurdo.
Em nenhum momento, a autora explora as razões dos irmãos terem tais dons. Ela sugere que pode ser uma herança familiar, porém, mais uma vez, o assunto não é desenvolvido. É tudo muito vago e inconsistente. Para mim, é difícil comprar uma ideia que não está alicerçada em argumentos válidos.
Eu gostaria de dizer que amei o livro, mas essa não seria verdade. “A Peculiar Tristeza Guardada Num Bolo de Limão” não me encantou. É um livro que tem muito a dizer, mas que revela pouco. Uma pena.
Bender, Aime. A Peculiar Tristeza Guardada Num Bolo de Limão. Leya, 2013. 304 p.