— Tive uma sensação estranha em relação a meu filho, a esse garotinho, esse menino que se parece comigo. Era como um desejo. Mas esses ataques que estou tendo, em que quase entro em colapso, desmaio e fico parecendo um idiota, não têm ligação com esse desejo. Têm relação com outra coisa.
— Com o quê?
— Culpa.
p. 80
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Frieda Klein é uma psicoterapeuta com uma disposição solitária, que presa por sua independência e dedicada ao trabalho. Quando seu amigo e mentor fica impossibilitado de clinicar, ela se vê obrigada a assumir um de seus pacientes.
Alan Dekker é um homem de meia-idade que está enfrentando sérios problemas psicológicos. Atormentado por sonhos recorrentes e acometido por ataques de pânico, ele chegou ao ponto de ter medo de adormecer. Sua vida está desmoronando…
Frieda garante a Alan que seu consultório é um lugar onde a sinceridade deve imperar, e que ele pode revelar seus segredos e desejos mais íntimos sem medo. Assim, ela conhece as fantasias que habitam os sonhos de Alan… ele devaneia com um garotinho, um menino parecido com ele… anseia ser pai desesperadamente. Mas essa não é a primeira crise de Alan, quando jovem ele apresentou um problema similar.
Ao ler o jornal em uma manhã de domingo, Frieda se depara com um notícia alarmante, que a faz vacilar frente a sua promessa de confidencialidade entre médico e cliente. Matthew Faraday – de 5 anos – havia sido raptado próximo a escola e a polícia havia iniciado uma caçada pelo menino. A foto do Matthew estava estampada em todos os meios de comunicação, e ele era muito parecido com o garotinho dos sonhos de Alan.
Uma torrente de dúvidas e pensamentos sombrios invadem sua mente. Mesmo hesitante, Frieda procura a polícia e relata suas suspeitas, mas o investigador-chefe Karlsson não a leva a sério. Entretanto, ao fazer uma conexão entre os sonhos de Alan com um crime ocorrido há vinte anos, o cenário muda de figura.
Agora, percorrer os labirintos da mente de seu paciente torna-se o mais importante. Um caso de vida ou morte, onde na falta de evidências concretas, desvendar a psique humana é o único caminho para salvar o pequeno Matthew.
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Nicci French é o pseudônimo usado pelo casal de jornalistas britânicos Nicci Gerard e Sean French, que já escreveram outros 13 romances.
Segunda Sombria – primeiro volume da série Frieda Klein – é um romance policial denso, que tem como foco o estado psicológico, emocional e distúrbios comportamentais dos envolvidos na trama.
Frieda Klein é uma personagem complexa e um tanto contraditória, ela analisa a mente de seus pacientes e se empenha em ajuda-los, porém se mostra reticente em relação a seus próprios problemas pessoais. Ela é extremamente reservada, reluta em deixar que as pessoas se aproximem e prefere levar uma vida mais reclusa. Um contraposto interessante.
Nicci French teceu uma história com uma atmosfera fria, onde as fantasias e os recônditos de uma mente perturbada se apresentam como peças de um quebra-cabeça. A trama não possui cenas de ação, mas a tensão está presente do início ao fim. Segunda Sombria é um livro que impacta pelo tema que inspira apreensão, no entanto achei pouco sedutor.
A princípio imaginei que o livro seria mais sombrio, pois enredos que abordam crimes contra crianças geralmente me causam repulsa. Porém, a história concentra-se mais no exame da mente do que no crime em si.
A investigação está intimamente ligada e, de certa forma, é dependente demais das revelações feitas através das análises psicológicas de Frieda. Para mim, o autor renunciou elementos importantes de um romance policial em benefício de uma investigação minuciosa da psique humana. Achei inverossímil a teoria apresentada no livro para a descoberta das pistas, e também o fato de a psicanálise ser o maior ponto de apoio da investigação.
Agora, o desfecho foi previsível demais! Para mim, ler um final tão óbvio foi um anticlímax. Enfim, Segunda Sombria é um suspense psicológico que não chega a decepcionar, desde que o leitor não espere demais da trama. É interessante, mas não surpreende.