Pensar, tudo bem; os pensamentos são enterrados junto com quem pensou. Mas nada de se reunir, nada de grupos coordenados, nada de troca de ideias.
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Em um mundo onde o ambiente está devastado e a atmosfera se tornou tóxica, o subsolo é a única forma de sobrevivência. Em um Silo subterrâneo, uma pequena comunidade vive sob regras rígidas, onde os direitos e interesses dos indivíduos se subordinam aos da coletividade. Expressar interesse ou simplesmente falar do mundo exterior constitui crime
capital. Nada deve ameaçar a harmonia no interior do Silo.
Holston, o xerife do complexo, está decidido a quebrar as regras. Ele expressa verbalmente seu desejo de “sair”. Não há nada que a prefeita do Silo possa fazer, a não ser enviar Holston para a “Limpeza”. Sua sentença, será ir para a superfície em um traje especial que o protegerá apenas o tempo suficiente para limpar os sensores localizados no exterior do Silo. Depois, morrer sob os efeitos tóxicos. Não há retorno.
Em toda história do Silo, nenhum condenado recusou-se a fazer a limpeza. Por que perder tempo limpando sensores se sua morte ocorrerá em poucos minutos? Esse é um mistério que ninguém conseguiu desvendar. Ainda…
Assim, após a Limpeza de Holston, a prefeita do Silo precisa nomear um novo xerife. Juliette, uma funcionária da mecânica, é convidada a assumir o cargo. Mas Jules tem um espírito inquieto e “mete o nariz” onde não é chamada. Ela descobre que toda a sua vida não passou de uma ilusão. Mentiras são contadas, pessoas manipuladas e, assim, a nova xerife acaba indo de encontro aos interesses do verdadeiro responsável pelo funcionamento do Silo. Enquanto tenta desvendar a verdade, seu destino está sendo decidido nos bastidores.
Não demora muito para que ela seja acusada de infringir a lei, e ser enviada para a morte certa… a Limpeza. Mas aliados inesperados lhe dão uma chance de ir um pouco mais longe.
Pela primeira vez uma Limpeza foi mal sucedida. Jules se recusa a limpar os sensores e parte rumo ao desconhecido. Quando desaparece no horizonte, ela desperta a curiosidade e a revolta dentro do Silo.
Seria possível explorar o exterior? Por que o traje de Jules a protegeu por mais tempo? A suspeita ínsita a discórdia, e a certeza de que mudanças precisam ser feitas dão início a insurreição…
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Silo – primeiro livro da série homônima de Hugh Howey – é uma distopia que foge do comum. Os elementos clássicos do gênero estão presentes – o regime despótico, sociedade mantida sob regras rígidas, a curiosidade e o conhecimento são desestimulados e um evento que se torna o estopim de uma revolta – porém, o enredo é bem diferente do que estamos habituados. Em Silo, não há adolescentes audazes cujo futuro depende unicamente de seus esforços, seus conflitos e teimosias insuportáveis, mas adultos com maturidade suficiente para ponderar sobre suas ações. Nada de triângulos amorosos e mi-mi-mi. rsrs
Há quem discorde dessa classificação de gênero e considera o livro como ficção científica, mas, para mim, é uma distopia, sim.
Mas a grande diferença está no cenário. Um ambiente claustrofóbico e opressivo, onde as pessoas estão confinadas em um silo sepultado nas profundezas da terra. Imaginem viver num cilindro gigantesco, com 144 níveis abaixo da superfície, onde os anseios são reprimidos, as conversas sussurradas e todos devem trabalhar para manter a estrutura autossuficiente e em ordem. Até os nascimentos são controlados, só é permitido gerar uma nova vida quando um habitante morre.
A estrutura do silo é dividida em 3 sessões – superior, intermediária e inferior – com 48 andares cada. Cada setor possui uma função específica, e é responsável por gerar algo para a subsistência do complexo – há o andar responsável pelo cultivo de alimentos, pela criação de animais, suprimento, tecnologia, mecânica, berçário, etc.… Aliás, a disposição dos setores é um elemento relevante na história, tudo foi planejado para funcionar conforme os objetivos de quem está no comando.
Mas porque viver no subsolo? Silo nos apresenta um mundo pós-apocalíptico, cuja atmosfera está contaminada – por toxinas ou radiação, talvez? – e o simples ato de respirar ou ficar exposto é fatal. Não há nenhuma vida no exterior e o horizonte oferece uma visão inóspita e de ruínas. Como se não bastasse viver na ignorância e sob leis rigorosas, o autor ainda encerra a sociedade num silo. Achei a ideia genial!
Outro diferencial, que achei muito bacana, é que a maioria das pessoas que possuem algum poder dentro do silo – xerife, prefeito, delegados… – também vivem na ignorância. Desconhecem a verdade, ou o que realmente rege todo o complexo. Parece algo improvável, mas ao ler o livro percebe-se que é possível. Bem, eu pelo menos comprei a ideia.
Os protagonistas são únicos, cada um representa um papel singular na trama. No início, são pessoas condicionadas, que pensam e agem conforme o programado – de acordo com o “protocolo” dos criadores do Silo. Entretanto, essas pessoas são adultos pensantes, com vontades próprias, questionamentos e ideias. Por mais que se tente controlar o comportamento e conter anseios, é impossível vigiar seus pensamentos. É exatamente isso que Silo nos mostra… o fracasso em dominar a essência do ser humano – suas ideias, emoções e espírito. Tentar fazê-lo é uma receita para o caos. O autor insere também o contraposto desses personagens. Aqueles que aceitam o que lhe é imposto, que optam pela passividade ou por estar do lado dos mais fortes.
O enredo é muito bem amarrado e envolvente. Daqueles livros que nos mantém cativos em suas páginas do início ao fim, principalmente pelo mistério que permeia a construção do Silo. Um livro repleto de mistérios, mentiras veladas, traições, engodos e uma pitada de romance. Imperdível para fãs do gênero que procuram algo original. Com certeza, vale a pena conferir.