Como, berra meu coração, "como" posso estar fazendo isso novamente? Como pode um ser humano cometer outra vez o mesmo erro que quase arruinou sua vida? Conhecendo o indício de mais uma catástrofe? A cada passo, me faço essas perguntas. Mas a resposta é sempre a mesma: por causa do que existiu entre aquela época e agora - porque aquela época não mereceu ser chamada de vida.
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Mais de vinte anos após escrever seu primeiro romance de ficção, “Acima de Qualquer Suspeita”, Scott Turow retorna à vida de seus personagens Rusty Sabich e Tommy Molto em “O Inocente”. Agora com 60 anos, Rusty é um respeitado Juiz-presidente do Tribunal de Recursos, e terá mais uma vez que enfrentar o banco dos réus.
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Ao acordar, assim que olhou em direção à sua mulher, Rusty Sabich conseguiu perceber a mudança mortal. Após constatar que Barbara realmente estava morta, ele se sentou e ficou ali por 23 horas. Não ligou para ninguém, nem mesmo para os paramédicos ou a polícia.
Um ano e meio antes da morte de Barbara, Rusty enfrentava um momento delicado. Ele era um homem estoico e infeliz, porém cheio de anseios. Não esperava grandes mudanças nessa altura da vida, mas sua solidão acabou sendo aplacada por uma mulher 30 anos mais jovem. Ele sentiu que essa era sua última chance de experimentar os impulsos mais primitivos do homem.
Rusty tinha a ambição de se eleger para a Suprema Corte Estadual e ter uma amante não melhoraria a opinião pública a seu respeito. Desejos demais…prudência de menos. Aquele relacionamento estava fadado ao fracasso. Ele sabia desde o início… Mas o que Rusty não imaginava é que aquele caso amoroso seria o estopim que o tornaria, mais uma vez, suspeito de assassinato.
Há vinte anos Rusty e o atual procurador de justiça, Tommy Molto, se enfrentaram no tribunal. Rusty foi exonerado de seu cargo e Tommy saiu com sua imagem manchada pela suspeita de manipular provas. O caso deixou um gosto amargo para Tommy, e eles jamais conseguiram aparar essas arestas. Mas quando o promotor assistente, Jim Brand, lhe diz que há algo estranho na morte de Barbara Sabich, Tommy percebe que talvez tenha chegado a hora de fazer justiça.
Tommy Molto ainda acreditava que Rusty fosse um assassino, mas não estava disposto a enfrentar uma maratona nos tribunais com um caso raso e sem provas concretas. Mas as evidências começaram a apontar para Rusty e ele não podia tolerar que mais uma morte saísse impune. Tommy decide dar sua última cartada, uma espécie de tudo ou nada, jogando com sua própria reputação para tentar colocar Rusty atrás das grades de uma vez por todas. Mas há muitas variáveis em jogo…as provas são plausíveis, porém facilmente contestadas.
Mas Rusty não está sozinho nessa empreitada, ele tinha o apoio de seu filho Nat e a defesa implacável de seu advogado Sand Stern. Sand tem a capacidade única de desmantelar qualquer argumento e Rusty sabe que pode contar com isso durante o julgamento. Mas Tommy conhece bem o advogado de defesa e estará preparado para enfrentá-lo no tribunal.
Nesse jogo de gato e rato o que importa é vencer, onde a amargura e o rancor irão se revelar peças decisivas das engrenagens da máquina judiciária.
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A trama de O Inocente explora todas as articulações políticas, manipulações da lei e cada personagem tem um envolvimento singular nos eventos. Scott Turow explora tão bem o lado emocional e psicológico dos personagens, que o livro é repleto de vozes individuais introspectivas. Essa linha narrativa enriquece muito a trama, porém o livro perde um pouco as características de um thriller. O ritmo é mais brando, mas acredito que para um romance policial jurídico esse compasso foi ideal. Ficaria muito difícil de acompanhar todos os trâmites legais, investigações e todos os detalhes paralelos da vida pessoal de cada um dos envolvidos, se o livro tivesse um ritmo mais acelerado. Turow apresenta ao leitor a história de um julgamento tão intrincada e bem tecida, que a velocidade com que tudo se desenrola se torna irrelevante.
Para me manter focada, um romance policial têm que instigar minha imaginação e curiosidade. “O Inocente” conseguiu, a todo momento eu me perguntava quem seria o assassino e também cheguei a acreditar que Rusty realmente pudesse ser culpado. Não há pistas concretas e a toda descoberta minha balança pendia para um lado. E não é só a morte de Barbara que desafia o leitor, há toda uma gama de detalhes no desenvolvimento do processo judicial e nas relações pessoais dos personagens que acabavam influenciando minha opinião.
Definitivamente Rusty não dá sorte com as mulheres. Pior…toda vez que ele decide brincar no parquinho do vizinho algo de bizarro acontece e ele acaba sentado no banco dos réus.
O Inocente é um livro que envolve assassinato, política e jogos de interesses. Tudo que uma boa trama precisa para ser surpreendente e cativante. Se você é fã de romance policial ou deseja conhecer esse gênero literário, Scott Turow é excelente. Leia, porque vale a pena.
Scott Turow estará na Bienal do livro Rio 2011 no dia 11 de setembro as 15:30 hrs no Café Literário e estará autografando às 17:00hrs no Estande Record. Eu estarei lá! Se você tiver oportunidade de ir à Bienal não perca esse encontro.
Conheça outros títulos do autor AQUI
Turow, Scott. O Inocente. Record, 2011. 434 p.