Há sempre alguém que, secretamente, acredita em mitos e lendas; ou, pelo menos, em parte. Essas são as pessoas que vão olhar além do óbvio e ver as coisas deste mundo que são realmente maravilhosas …
— Mas elas não vão dizer nada, mesmo que descubram. Porque o restante de nós, que vemos o mundo como algo lógico e científico, não enxergaríamos a verdade ainda que estivesse exposta num outdoor. Tenho sorte de você ter me esfregado a verdade na cara…eu jamais teria visto você como realmente é.
— Sou apenas eu, David.
— Essa é a melhor parte.
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Laurel sempre foi diferente. Foi educada pelos pais em casa, ama estar ao ar livre, odeia usar roupas apertadas e desconfortáveis, só come frutas e vegetais, e não tem amigos. Sempre teve uma vida tranquila, mas quando se mudou para Crescent City, tudo começou a mudar. Seus pais acharam que havia chegado a hora de frequentar uma escola pública e se socializar. Para Laurel, se adaptar à sensação claustrofóbica das salas de aula, ao barulho e à aglomeração de pessoas não foi nada fácil. Mas ao encontrar em David um amigo e companheiro de confidências, sua nova rotina tornou-se mais tolerável.
Um dia, ao tocar a região entre suas escápulas, ela percebe que um estranho caroço surgiu em suas costas. Seria sua primeira espinha? Afinal, mesmo estando com 15 anos, Laurel ainda não entrou na puberdade. Mas com o passar dos dias, essa hipótese se mostrou impossível. O caroço continuou crescendo e pouco tempo depois eclodiu…lindas pétalas desabrocham em seu lugar. Eram deslumbrantes e se pareciam com asas.
Em pânico, Laurel decide guardar segredo e tenta esconder sua nova condição de todos. Mas David, percebeu que algo a estava perturbando e insistiu para que Laurel revelasse o problema. Ela sabia que não conseguiria carregar esse fardo sozinha e, por fim, decidiu confiar em seu amigo. Juntos, eles tentam encontrar respostas para esse mistério.
Entretanto, quando Laurel encontra Tamani – um rapaz diferente de todos que ela já conheceu – uma nova realidade lhe é apresentada. Ela pertence a dois mundos – o humano e o das fadas. Dividida entre essas duas realidades, Laurel terá que fazer escolhas difíceis que poderão influenciar o mundo humano e feérico.
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“Asas” é o primeiro livro da série Fadas escrita pela autora Aprilynne Pike. Em Asas, a lenda sobre as fadas é totalmente diferente da que conhecemos. A autora criou sua própria fábula e, com certeza, ela foi ousada e singular. Não vou negar que estranhei muito a história em torno das fadas e fiquei meio dividida. Meu lado imaginativo achou a mitologia original, mas meu lado megera – espírito de porco mesmo – achou absurdo. Juro que tentei superar a descrença, mas não consegui “comprar” a ideia. Mas tenho que admitir que nunca li nada igual, nesse ponto tenho que dar o braço a torcer.
Apesar da autora reinventar a mitologia das fadas, ela manteve alguns elementos clichês e estereotipados na trama. Sabe aquela velha história de Avalon, portais ocultos, Rei Arthur e o escambau? Pois é…aqui também estão presentes.
Temos uma história que gira em torno de descobertas, onde tudo que Laurel acredita se mostra equivocado. Apesar das revelações serem estranhas e inquietantes, os personagens aceitam esse universo desconhecido fácil demais. Eles são passivos e isso me incomodou. A percepção de David, em relação à nova realidade de Laurel, foi de uma boa vontade fora do normal. Ele é um garoto fofo, mas compreensivo demais e sua calma chega a ser enervante. Agora, Tamani foi quem roubou meu coração! Ele é selvagem, desinibido e demonstra mais determinação. Tamani fez a diferença.
Laurel é uma garota insossa. Eu sei que a protagonista foi descrita para se encaixar na mitologia criada e que, sua real natureza, é quem a governa. Mas seu estilo de vida, a rotina, seus hábitos alimentares e todas aquelas coisas “natureba” são um tédio. Sabe aquele tipo de personagem que não cheira e nem fede? Então... Laurel não me cativou, mas também não provocou antipatia.
“Asas” não foi um dos melhores YA sobrenatural que li, mas ele ainda tem seus encantos. Apesar da narrativa manter um ritmo constante, com poucos momentos de ação, a escrita da autora é muito cativante e não me senti entediada. Foi uma leitura rápida, fluida e interessante.