… Mantenha sempre seus inimigos confusos. Se nunca estiverem seguros de quem é ou do que quer, não podem saber o que é provável que faça em seguida. Às vezes, a melhor maneira de confundi-los é fazer coisas que não têm nenhum propósito, ou até que parecem prejudicar você. Lembre-se disso, Sansa, quando começar a jogar o jogo.
– Que…que jogo?
– O único jogo. O jogo dos tronos…
– Que…que jogo?
– O único jogo. O jogo dos tronos…
Pág. 630
"A Tormenta de Espadas” é o terceiro volume da série As Crônicas de Gelo e Fogo escrita por George R. R. Martin. Leia também a resenha de "A Guerra dos Tronos" e “A Fúria dos Reis”.
Esse livro é magnífico e merece toda minha atenção. Por isso…considerem-se avisados! A resenha será extensa, porém muito apaixonada.
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(pode conter spoiler para quem não leu o livro anterior)
Os Sete Reinos ainda está em guerra e todo território continua a ferro e fogo. Mas o equilíbrio entre os autoproclamados reis se desfaz pouco a pouco…
Após a derrota da Batalha da Água Negra, o rei Staniss Baratheon retorna à Pedra do Dragão para planejar seu próximo movimento. Melisandre continua impondo os princípios da crença em R’hllor e as cerimônias em nome do Senhor da Luz exigem sacrifícios cada vez mais sombrios. Apesar da Sacerdotisa Vermelha estar sempre a seu lado, Staniss ainda deseja os conselhos de Davos, seu bravo e fiel cavaleiro das cebolas. Davos não confia em Melisandre e está disposto a arriscar sua segurança pelos interesses de seu rei.
O rei do Norte, Robb Stark, retorna a Correrrio após vencer mais uma batalha. Porém, ao tomar uma decisão impulsiva, o Jovem Lobo coloca em risco o apoio de um de seus maiores aliados. Como se não bastasse o clima de revolta, um ato desesperado de sua mãe, Catelyn, incitará a fúria entre seus homens. Robb está cada vez mais enfraquecido e terá que enfrentar seus desafios com diplomacia. Será ele capaz de competir com a astúcia de seus oponentes?
Na corte, em Porto Real, os Lannister continuam em vantagem no jogo dos tronos. Para eles, vale tudo para manter a coroa sobre a cabeça de Joffrei. Através de conspirações e acordos escusos, eles conquistam novos aliados e formam fortes alianças; fortalecendo o poder dos Lannister. Tyrion ainda se recupera de seus graves ferimentos, mas sua saúde é o menor de seus problemas. Ele ainda terá que enfrentar o desprezo de seu pai e o ódio de sua irmã, a rainha regente Cercei. O anão é astuto, mas até para ele as intrigas da corte se tornam perigosas demais…
Enquanto o jogo se torna cada vez mais brutal, as crianças Stark continuam resistindo às armadilhas do destino. Sansa está livre do compromisso com Joffrei, mas continua como refém dos Lannister. Arya prossegue em sua jornada para voltar ao seio de sua família, mas as estradas são um lugar perigoso e a cada curva sua segurança é posta em risco. Bran ainda não sabe como lidar com seu dom recém-desenvolvido e decidiu que precisa aprender a ser um “troca-peles”. Ao lado de Jojen, Meera, Hodor e seu fiel lobo gigante, Verão, Bran ruma para o extremo norte em busca de conhecimento e magia.
Além-mar, Daenerys Targarien – a Filha da Tormenta – navega em direção às terras que lhe são de direito. Mas antes de lutar pelos Sete Reinos, ela terá que descobrir quem são seus verdadeiros aliados. Para ter alguma chance de reconquistar a coroa, Dany precisará reunir um exército e aprender a governar.
Para lá da Muralha, Jon Snow se encontra entre os selvagens e teme não conseguir manter seus votos. Está dividido entre o desejo e a lealdade. O líder dos selvagens reuniu um imenso exercito – formado por guerreiros, gigantes e terríveis feras –, e está decidido a atravessar a muralha. Com a guerra não há homens dispostos a vestir o negro e, a cada dia, a Patrulha da Noite se encontra mais enfraquecida. Mas esse não é o único desafio para os defensores da Muralha de Gelo. O inverno está chegando e os “Outros” estão despertos…
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Apesar do grande número de páginas (880 p.), a narrativa de “A Tormenta de Espadas” flui de forma excepcionalmente ágil. Talvez pela escrita atraente, ou pelo caráter multifacetado da trama – o que torna a história fascinante –, é possível lê-lo por horas a fio. Ao defrontar-se com um exemplar tão extenso, o leitor pode presumir que o livro apresente trechos demasiados longos ou com alguma enrolação. Mas não, o enredo não possui sobras, repetições ou capítulos cansativos. O fluxo de ideias do autor é constante e em momento algum deixa o clima belicoso do enredo perder a intensidade.
O leitor é arrastado por uma sucessão de acontecimentos que ora atordoam – deixando-nos em suspense –, ora inflamam – provocando uma explosão de emoções. O autor me conduziu através de sentimentos sutis como: compaixão e ternura à completa ira e revolta.
G.R.R.M não confere uma visão maniqueísta a sua obra, pois nas Crônicas de Gelo e Fogo não existe o clichê da eterna batalha do bem contra o mal. A cada indivíduo é conferida uma dualidade de caráter e, dependendo da situação apresentada, suas ações podem ser encaradas como boas ou más. Fica a cargo do leitor avaliar e decidir quem é o vilão e quem é o herói. Os personagens foram traçados com características muito humanas e o leitor desenvolve uma ligação forte e intimista com cada um deles. Poder desvendar suas múltiplas camadas se tornou um de meus exercícios de imaginação preferido.
Personagens, que eram descritos através dos olhos de outro narrador, ganharam voz nesse volume. Pela primeira vez entramos na mente de Jamie – o Regicida –, e conhecemos melhor o covarde Sam Tarly. Os capítulos de Jamie foram um dos que mais me agradaram, principalmente pela presença marcante da “feia” Brienne.
O cenário construído pelo autor estabelece um equilíbrio magistral entre a fantasia e os elementos factíveis. Desde o segundo livro a fantasia está mais expressiva nas Crônicas de Gelo e Fogo, mas em “A Tormenta de Espadas” a magia e o sobrenatural aparecem com muito mais força. Um tema que está presente em todo o livro, é a questão da fé, tradições e misticismo. A crença molda, orienta e determina as escolhas de muitos personagens. Temos os deuses antigos – adorados no norte; a fé Nos Sete – religião cultuada pela maior parte de Westeros e R’hllor – divindade conhecida como o “Senhor da Luz” – onde seus seguidores realizam cultos sombrios.
G.R.R.M não confere uma visão maniqueísta a sua obra, pois nas Crônicas de Gelo e Fogo não existe o clichê da eterna batalha do bem contra o mal. A cada indivíduo é conferida uma dualidade de caráter e, dependendo da situação apresentada, suas ações podem ser encaradas como boas ou más. Fica a cargo do leitor avaliar e decidir quem é o vilão e quem é o herói. Os personagens foram traçados com características muito humanas e o leitor desenvolve uma ligação forte e intimista com cada um deles. Poder desvendar suas múltiplas camadas se tornou um de meus exercícios de imaginação preferido.
Personagens, que eram descritos através dos olhos de outro narrador, ganharam voz nesse volume. Pela primeira vez entramos na mente de Jamie – o Regicida –, e conhecemos melhor o covarde Sam Tarly. Os capítulos de Jamie foram um dos que mais me agradaram, principalmente pela presença marcante da “feia” Brienne.
O cenário construído pelo autor estabelece um equilíbrio magistral entre a fantasia e os elementos factíveis. Desde o segundo livro a fantasia está mais expressiva nas Crônicas de Gelo e Fogo, mas em “A Tormenta de Espadas” a magia e o sobrenatural aparecem com muito mais força. Um tema que está presente em todo o livro, é a questão da fé, tradições e misticismo. A crença molda, orienta e determina as escolhas de muitos personagens. Temos os deuses antigos – adorados no norte; a fé Nos Sete – religião cultuada pela maior parte de Westeros e R’hllor – divindade conhecida como o “Senhor da Luz” – onde seus seguidores realizam cultos sombrios.
A Tormenta de Espadas é um livro marcado pela perfídia, mas também conseguimos vislumbrar demonstrações de honra e lealdade. Muitas alianças são forjadas, porém a maioria é consolidada através de conspirações. Para mim, o evento mais brutal foi o casamento vermelho. Confesso que minhas emoções ficaram um tanto fora de controle.
Se você está à procura de uma leitura tranquila ou de uma trama pacífica, então A Tormenta de Espadas não é o livro adequado. Mas se o leitor deseja ter seus sentidos e emoções sacudidos, nesse caso... corra para a livraria mais próxima! Este é o maior e também o mais impactante livro da série até o momento. A cada página somos surpreendidos com os movimentos dos personagens nesse grande tabuleiro que é os Sete Reinos. Enfim… As Crônicas de Gelo e Fogo é sensacional.
Martin, George R. R. A Tormenta de Espadas. LeYa, 2011. 880 p. (As Crônicas de Gêlo e Fogo, Vol. 3)