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Digno de Nota

sexta-feira, 4 de maio de 2012

“CLUBE DA LUTA” (Chuck Palahniuk)

Durante milhares de anos os humanos foderam, sujaram e fizeram merda com este planeta e agora a história espera que eu limpe tudo... Eu tenho que pagar a conta do lixo nuclear, tanques de combustível enterrados e terra cheia de lixo tóxico jogado lá uma geração antes de eu nascer…
Queria respirar fumaça…
Queria queimar o Louvre. Quebraria os mármores do Panteão com uma marreta e limparia a bunda com a Mona Lisa. Esse é o meu mundo agora.
Esse é o meu mundo agora, o meu mundo, e as pessoas antigas estão mortas.
Pág. 154
~~~*~~~
“Ele” era um coordenador de campanhas de recall insone. Visitou seu primeiro grupo de apoio há dois anos, depois de ir ao médico mais uma vez por causa da insônia. Nesses grupos “ele” ficava perdido no esquecimento e, às vezes, chorava. E, então, ele dormia. Foi em um desses grupos que “ele” conheceu Marla Singer. Ela era uma farsa, uma grande turista e estava estragando a única coisa real em sua vida. Depois desse dia, “ele” não conseguiu mais chorar…

Ao voltar de uma viagem a trabalho, “ele” descobre que não tem mais onde morar. Seu apartamento não existe mais. Levou a vida comprando tudo aquilo e agora não tinha mais nada. Então, decidiu telefonar para seu novo amigo, Tyler Durden.

Foi em uma praia de nudismo que “ele” conheceu Tyler – um projetista de cinema, garçom de hotel e fabricante de sabão. 
 Após a ligação, eles se encontraram em um bar. Tomaram varias cervejas e Tyler disse que “ele” poderia ir morar em sua casa, mas antes teria que lhe fazer um favor… Lá, bêbado no bar, Tyler disse: “Quero que me dê um soco o mais forte que conseguir”.

Foi quando “ele” percebeu que nunca havia entrado numa briga e que, um dia, morreria sem ter cicatrizes. Assim, nasceu o clube da luta.
Não se sentia tão vivo em nenhum outro lugar como no clube da luta. A maioria dos caras está no clube por causa de algo que não conseguem enfrentar. Depois de "sair na mão" algumas vezes, você perde o medo das coisas.

Mas o clube da luta não é somente um bando de homens arrebentado uns aos outros na porrada…existem regras: 1- Você não fala sobre o clube da luta. 2- Você não fala sobre o clube da luta. 3- Quando alguém diz “pare” ou fica desacordado, mesmo que esteja fingindo, a luta acaba. 4- Apenas duas pessoas por luta. 5- Uma luta por vez. 6- Sem camisa e sem sapatos. 7- As lutas duram o quanto tiverem que durar.

A principal regra é não falar sobre o clube da luta e, mesmo assim, alguém sempre “abre o bico”. O evento se espalhou e Tyler conquistou seguidores por todo país. O clube da luta cresceu e se tornou uma filosofia... um estilo de vida.
Mas Tyler Durden queria mais. A autodestruição já não bastava, agora ele almejava o caos…
~~~*~~~
“Clube da Luta” do autor Chuck Palahniuk é uma obra difícil de definir ou classificá-la em uma categoria. Palahniuk descreve seu estilo como Ficção Transgressional e acredito que esta seja mesmo a melhor definição para Clube da Luta. O livro explora a oposição de um indivíduo aos princípios impostos pela sociedade. Não, ainda não estou sendo exata nesta afirmação. “Clube da Luta” é muito mais que isto.

O enredo trabalha em cima de comportamentos antissociais. Uma realidade frustrante é o que desencadeia os atos de transgressão dos personagens. O tal clube da luta não é apenas a expressão de um desejo em ultrapassar todos os limites, de infringir as regras ou de extravasar a ira; mas é, principalmente, o reflexo de uma mente instável. É nesse ponto que reside a verdadeira questão. Em “Clube da Luta” acompanhamos a história de um anarquista ou de um louco?

Chuck Palahniuk escreveu um livro fora dos eixos, diferente… estranho até. Sua narrativa meio incoerente e, às vezes, dissonante me deixou um tanto atordoada no princípio. Mas logo o leitor percebe que é exatamente esta escrita desconexa que dá um tom de desvario à obra. Outra característica marcante é que o narrador da história não tem nome; esse é o motivo do "ele" na descrição do livro. O personagem pode ser a manifestação de qualquer indivíduo questionador.

O texto de Palahniuk é irônico e repleto de humor negro. O autor “brinca” com a morte, com valores morais e satiriza os padrões de comportamento – esquivando-se do que é considerado civilizado e entrando num estado de barbárie. É complicado pôr em palavras tudo que o livro representa.

Não é à toa que “Clube da Luta” se tornou um clássico “cult” desde a sua publicação nos anos 90. Sem brincadeira, o livro é diferente de tudo que li. É agressivo, contestador, autodestruitivo, subversivo e, à sua própria maneira, brilhante.

Palahniuk, Chuck. Clube da Luta. Leya, 2012. 270 p.

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