No fundo, somos apenas isto: horizontais e verticais. Um simples conjunto de atitudes e posições, palavras que se cruzam como nós enquanto andamos, dormimos, brincamos, fazemos amor, voltamos para casa com calafrios e caímos na cama doentes. Até que, um dia, tudo se torna homogêneo e percebemos que o enigma, aquele que estamos tentando resolver há tanto tempo e com tanta dificuldade, nunca poderá ser solucionado.
O resto do tempo é uma longa linha horizontal.
O resto do tempo é uma longa linha horizontal.
Pág. 116
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Em 1978, a Itália atravessava um momento de grande tensão com o sequestro de seu ex-primeiro-ministro. Milão, por sua vez, estava consumida pelos confrontos políticos e ameaçada pela criminalidade. Mesmo nesse clima de atrito, a rica sociedade milanesa se entrega aos prazeres e diversões extremas.
É sob essas circunstancias que, Bravo, – um homem marcado pela violência – conduz seus negócios ilícitos. Ele é um vendedor de mulheres… um fornecedor de prazer.
Tudo começou quando ele entendeu que havia mulheres dispostas a vender o próprio corpo por dinheiro e percebeu que havia homens dispostos a gastar o próprio dinheiro para ter aqueles corpos.
É preciso avidez, desdém e cinismo para ficar no meio dessa troca. E Bravo tinha todos os três.
Bravo vive rodeado por belas mulheres, mas é um homem solitário. Em meio a esse abandono interior, Bravo passa as noites com indivíduos fracassados e cheios de vícios. Mas nas horas vagas, compartilha com seu vizinho cego a prazerosa distração de desvendar enigmas e criptogramas.
Porém, sua vida se torna um tormento ao conhecer Carla, uma servente de limpeza inconsciente de seus próprios encantos. Carla traz à tona sensações e emoções que Bravo acreditava esquecidas. Ao recrutá-la para fazer parte de sua equipe de “garotas”, Bravo estava abrindo caminho para o caos.
De uma hora para outra, ele passa de empresário do sexo a criminoso procurado pelas autoridades. Se tornou alvo de um capanga da máfia e, quando esse mesmo homem é encontrado morto, Bravo é apontado como principal suspeito do assassinato. Como se não bastasse estar na mira da polícia, após um atentado terrorista ele começa a ser caçado pelo serviço secreto italiano, pelos paramilitares das Brigadas Vermelhas e pela máfia.
Para provar sua inocência e sair dessa ileso, Bravo deverá correr contra o tempo e desvendar o enigma mais importante de sua vida. “Quem” e “porquê” estão tentando incriminá-lo?
Ele sempre fugiu de suas dolorosas lembranças, mas em sua busca por respostas, Bravo será forçado a enfrentar seu maior pesadelo… o passado.
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Memórias de Um Vendedor de Mulheres do autor italiano Giorgio Faletti, não é um romance policial nos moldes convencionais. O leitor não encontrará uma investigação policial, mas o relato – de certa forma amargo – de um homem que participa do submundo do crime.
Somos apresentados aos bastidores do crime organizado: as operações da máfia italiana, lavagem de dinheiro, pagamentos de propinas, chantagem, assassinatos, etc. Atividades ilícitas que ocorrem à margem do olhar da justiça, muitas delas camufladas sob um véu de legalidade com a ajuda de policiais e políticos corruptos.
Em Memórias de Um Vendedor de Mulheres, a narrativa é mais lenta que nos livros anteriores de Faletti, porém isso é uma característica esperada. O próprio título do livro indica que o leitor encontrará um registro das recordações do protagonista e uma narração em primeira pessoa. A escrita no formato de “memórias” não tem como principal objetivo a ação e a fluidez da narrativa, no entanto favorece um relato mais reflexivo e emocional do personagem.
A ambientação do livro é algo que também o distingue. Milão dos anos setenta, com suas noites repletas de prazeres e também de ameaças, confere à trama uma atmosfera obscura e ao mesmo tempo atraente. O clima “Noir” e nostálgico são sedutores, porém não deixa de ser um tanto clichê.
O livro não é nenhum thriller de tirar o fôlego, mas reserva boas surpresas ao leitor. Principalmente no desfecho, pois o arquiteto de todo ardil do enredo passou despercebido.
O leitor que já leu Eu Mato e Eu Sou Deus irão perceber a diferença no ritmo e na construção desse romance. Para apreciar melhor as nuances de “Memórias de Um Vendedor de Mulheres”, não devemos fazer comparações com as obras anteriores do autor. Não cometam esse erro… São estilos, tramas e enfoques totalmente diferentes, mas nem por isso menos interessante.