Fazem isso às escondidas. Mas eu ouço.
Meu nome é Helena, nasci em Esparta, mas me fui de lá por amor.
Diziam que eu era a mulher mais bela do mundo.
Do pouco que tive, do muito que perdi, os aedos já fazem seus relatos. Relatos mentirosos. Afinal, não estavam lá. Eu sim.
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Esparta. Terra de oliveiras e guerreiros, homens duros. Lar de Helena. Bela como jamais vista, provocava sussurros por onde passava. As escravas murmuravam que era filha de Zeus, mas na verdade seus pais eram Tíndaro e Leda. Criada como uma princesa deveria ser, Helena de Esparta não era acolhida com muito carinho. Demonstrações de afeto não eram de bom-tom. Assim, cresceu em meio a indiferença.
Desde cedo aprendeu o efeito que sua beleza provocava nos homens. Aos doze anos foi sequestrada por Teseu. Apesar de ter sido regatada, nunca se esquecera daquele homem rude. Foi nesse dia que Helena conheceu seu primeiro amor, um soldado que a tratou com ternura e cujo nome jamais conheceu.
Helena teve outros amores, mas o destino não permitiu que ficassem juntos. Quando seu pai lhe ofereceu em casamento a Melenau, a jovem se viu presa a um indivíduo fraco e submisso. De início Helena sentiu compaixão pelo marido, mas os longos anos ao lado daquele homem tolo e frouxo transformou a pena em ódio. Ela estava cansada de sua vida Insípida.
Até que um dia, em uma cerimônia diplomática, um guerreiro troiano adentra o salão de seu castelo. Páris, seu novo amor.
Helena encontra nos braços de Páris aquilo que Menelau lhe negou…paixão. Por essa paixão, ela abandonou tudo e fugiu com o troiano. Agora ela era Helena de Troia…a adultera, meretriz. Ao seguir seu coração, levou desgraça e ruína à Troia. Mas também foi nesse lugar que Helena encontrou seu verdadeiro amor….
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O lendário conflito entre gregos e troianos – narrado pelo poeta Homero – é conhecido em todo mundo. O mito da mulher mais linda e cobiçada, causadora da Guerra de Troia, fez de Helena uma das mais célebres personagens da mitologia grega.Os desdobramentos de tal guerra – o “presente de Grego” – não é novidade para ninguém. Porém, a ideia da história ser narrada por Helena deixou-me curiosa.
Bem… a sinopse dá a entender que “Helena de Troia” é um romance focado nos amores e dessabores da protagonista. O título original – Memorie de una Cagna (algo como Memórias de uma puta) – é muito sugestivo e levou-me a acreditar que o livro seria um épico focado nas aventuras românticas de Helena. Mas não é.
Francesca Petrizzo manipula um pouco o mito original. Ela tira Helena do papel de divindade feminina e a coloca como uma mulher de carne e osso. Gostei muito disso.
Helena é passional demais e segue os desejos de seu coração como se não houvesse amanhã, porém suas paixões são passageiras. Ela trata o amor com certa leviandade e muitas vezes tive a impressão que a personagem confundia desejo com amor.
Petrizzo tem uma escrita lírica, poética e a história contada em forma de memórias possui um tom introspectivo. Por ser a visão feminina da Guerra de Troia, eu entendo a falta de ação e cenas de combate, mas eu gostaria que a trama tivesse um pouco mais de sensualidade. A prosa poética é densa, sensível e ao mesmo tempo melancólica, porém em alguns momentos a leitura se tornou maçante.
No meu regaço enxuto senti escorrer o tépido humor de um desejo esquecido, senti a pele se acender, minha carne palpitar. Prisioneira de seus olhos, imaginei aquelas mãos, aquele corpo em cima e dentro de mim, desejei sua língua quente em minha boca, o contato de seus lábios macios.
Pág. 80
Apesar do texto um pouco moroso, Helena de Troia foi uma leitura agradável. Não é um romance histórico arrebatador, ainda assim tem seus atrativos.
Petrizzo, Francesca. Helena de Troia. Lua de Papel, 2012. 208 p.