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Digno de Nota

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

“ADORMECIDA” (Anna Sheehan)

“Mas que escolha eu tinha, presa em um mundo que não era meu, com a minha vida nas mãos de outros? Jantar, falar com uma psicóloga, preparar-me para as aulas. Fiz tudo o que me disseram para fazer. Pois era tudo o que eu podia fazer.”
~~~*~~~
Ela esteve dormindo por mais de sessenta anos... até que foi despertada. Tentou se agarrar aos sonhos o máximo que pôde, mas foi a sensação de lábios tocando os seus que a tirou do torpor. Seu nome era Rose Fitzroy e acabara de renascer para o mundo.

Rose se lembrava da última vez que foi colocada em estase, mas não entendia porque a deixaram em suspenso por tanto tempo. Como puderam esquecê-la num porão?

Ela estava em uma época estranha – fora de seu tempo – solitária e confusa. Descobriu-se dona de um império e que o mundo que conheceu não existia mais. Enquanto Rose dormia, a humanidade enfrentou um período de terror chamado de Tempos Sombrios, onde o planeta entrou em colapso. A economia, o clima, a agricultura e a saúde pública foram afetados. O maior impacto se deu pelo ressurgimento de antigas epidemias consideradas extintas – a tuberculose e a peste bubônica – o que dizimou grande parte da população. 
Agora, não tinha mais ninguém no mundo. Seus pais estavam mortos e seu amado Xavier não passava de uma doce lembrança.

Enquanto tenta adaptar-se à nova realidade, Rose se vê desejosa de recomeçar. Volta para escola e tenta levar uma vida normal... fazer amigos, mas é vista por todos como uma aberração. Ela estava acostumada à rejeição, mas não imaginava que poderia ser considerada uma ameaça. Ao tomar consciência de que ser a única herdeira de uma corporação multimilionária pode ser muito perigoso, Rose percebe que seu maior desafio será manter-se viva. Ela está sendo caçada por algo letal e indestrutível. Quem poderia querer matá-la?
Rose não sabe em quem confiar. Mas a única pessoa disposta a ajudá-la, também esconde um segredo. Ela quer esquecer suas mágoas e seguir em frente, mas os fantasmas do passado continuam a assombrá-la. No entanto, ela terá que enfrentá-los – ou então não haverá futuro.
~~~*~~~
"Adormecida" da autora Anna Seehan foi uma leitura muito diferente do que eu esperava. Quando li a sinopse, tive a impressão que o livro traria um conto de fadas reinventado. Ledo engano. Bela Adormecida é apenas uma alusão. A trama tem um “que” de distopia, mas está mais para ficção científica e drama.

O romance de Anna Seehan se passa num futuro não definido, onde a ciência e tecnologia sofreram um grande avanço. É nesse cenário que nossa protagonista – Rose Fitzroy – acorda após um longo período de estase. Pois bem, o que seria a estase especificamente? O nome já nos dá uma ideia. É um sono induzido quimicamente, cujo indivíduo permanece em suspenso até ser retirado desse estado. Inicialmente, o que intriga o leitor é o porquê de Rose ter sido esquecida em estase por tantos anos. Um dos mistérios do enredo reside exatamente nessa questão, que nos é revelado pouco a pouco ao longo do livro.

Além do ramo da ficção científica representada pela tecnologia e ciência desse mundo futurista, temos um enfoque voltado para o psicológico e emocional da personagem. Sheehan retratou bem os traumas e as inseguranças de Rose. Apesar de alguns leitores não gostarem desse tipo de abordagem – afinal, são períodos mais reflexivos – eu me senti muito próxima de Rose justamente por ter compartilhado de seu sofrimento.

Rose cresceu sem a percepção de individualidade. No início ela é uma garota passiva e sem nenhuma autoestima, entretanto fechamos o livro com uma Rose pronta para enfrentar os desafios que o futuro promete. Gostei muito de acompanhar essa evolução.

Porém, Adormecida possui algumas falhas que podem incomodar um leitor mais exigente. O desfecho é previsível. A autora foca o enredo quase que exclusivamente na protagonista e deixa todo o resto em segundo plano. O período, o ambiente e o mundo em que a história está inserida são pouco desenvolvidos. Fiquei desejosa por mais informação. A soma de todas as catástrofes possíveis ocorrendo de uma só vez me pareceu pouco crível. Não foi descrito como algo gradativo, mas como um cataclismo repentino em que o homem foi pego desprevenido. Não comprei a ideia dos Tempos Sombrios.

Adormecida é uma história que aborda como a personalidade de um indivíduo pode ser impressa de acordo com o tipo de criação, o mando absoluto e arbitrário dos pais que leva uma criança a perder a própria identidade e o senso de normalidade. Acredito que seja nesse ponto que reside o traço distópico do enredo.
Um livro que dividirá opiniões. Não está na minha lista de preferidos, mas gostei bastante. Se você já leu, me diz o que achou.

Sheehan, Anna. Adormecida. Lua de Papel, 2012. 272 pág.
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