Estes são dias de trevas, de tristeza e de horror. O medo voltou.
~~~*~~~
A noite prometia ser como outra qualquer, mas algo terrível aconteceu… Os vidros tremeram e logo depois a o som das sirenes ecoaram pelo ar. Tal Levine – uma adolescente judia – demorou apenas um segundo para entender: uma explosão acabara de acontecer próximo à sua casa. Um homem-bomba se explodiu dentro de um café.O medo não deixou Tal esquecer das consequências do atentado. E se ela fosse a próxima vitima? O que faria se soubesse que só lhe restava alguns anos de vida? Tal deseja saber quem é, do que é feita. Assim, ela decide escrever um diário.
Mas isso não basta. Então, Tal percebe que seus desabafos, sonhos e anseios precisam ser lidos por alguém da Faixa de Gaza. Assim, Tal coloca os seus pensamentos dentro de uma garrafa e pede para que seu irmão a jogue o mar de Gaza. Na esperança de receber uma resposta, ela inclui na carta um endereço de e-mail. Tal esperava que uma garota de sua idade lesse a carta, mas o destino quis que a garrafa fosse encontrada por um rapaz…
Do outro lado, na Faixa de Gaza, Naim – um jovem palestino – se surpreende ao encontrar uma carta do “inimigo”. Sua primeira reação foi de que a ideia era estapafúrdia, porém tocante. O rapaz decidiu responder, mas ele mostraria para Senhorita “garrafa cheia de esperança num oceano de ódio” o quanto desprezava todo aquele blá blá blá.
Mas aos poucos, ele foi tocado pelas palavras da garota. O que começou como uma troca de ironias – uma tentativa de mostrar a Tal que seus ideais eram uma ilusão –, acabou se transformando em amizade. Apesar de parecer um sonho impossível, Tal e Naim são tomados pela esperança de um dia palestinos e israelenses encontrarem a paz.
~~~*~~~
Uma Garrafa no mar de Gaza de Valérie Zenatti, apresenta aos leitores um olhar delicado sobre um assunto denso. O conflito na Faixa de Gaza foi amplamente divulgado nos meios de comunicação, não é nenhuma novidade. Mas esse mundo de atentados a bomba, ódio e repressão nos parece tão distante que é muito difícil entender a verdadeira extensão do problema. Esse breve romance me apresentou uma visão mais intimista desse embate.Mas como contar uma história de dor e ódio entre esses dois povos de forma delicada? Pelo olhar simples e sonhador dos jovens. A esperança de um futuro melhor é algo patente no livro. Em “Uma Garrafa no mar de Gaza” temos a oportunidade de conhecer os dois lados desse conflito. Através de Tal, uma garota israelense de dezessete anos, percebemos como esse ódio arraigado é destrutivo. As pessoas não suportam mais os atentados, as explosões e os assassinatos em massa.
Como é que um homem pode sentir o coração batendo, respirar, estar com frio ou calor, ver a luz do dia, sentir que está vivo e acionar um mecanismo que fará seu corpo explodir? p. 34
Num primeiro momento, fazemos um mal juízo dos palestinos. Mas, então, conhecemos o outro lado da história. Naim, um rapaz que mora em Gaza, nos mostra o que é viver entre o rancor todos os dias. Para mim, a visão dele foi mais impactante.
Aqui está a Faixa de Gaza. Vinte e cinco quilômetros de comprimento, dez de largura. Ao redor, arame farpado, com sete “pontos de passagem”. Se alguma coisa um pouco violenta acontece aqui, em qualquer outro lugar, no lado israelense da Lua, se os israelenses ficarem com medo de que alguém mande tudo pelos ares, pimba!, os pontos de passagem são fechados… O pessoal fica tranquilo por aí. Os palestinos são hermeticamente vedados, como pepinos em conserva… p. 40
Percebemos a falta de autonomia dos palestinos, a vida precária dos refugiados e uma guerra travada com forças desproporcionais – mas não menos destrutiva. De um lado há os israelenses com um exercito organizado, armamento e aviões de caça, do outro os palestinos com bombas humanas fabricadas em série pelo Hamas e sua Jihad islâmica.
A narração em primeira pessoa – ora em forma de diário, ora como troca de e-mails – foi excelente para demonstrar os postos de vista dos personagens.
Uma Garrafa no mar de Gaza é um livro que induz reflexões. Não é um romance doce ou com um final de conto de fadas, mas é uma história que me encheu de esperança. Será que os jovens de hoje possuem vontade e força para construir um futuro melhor? Fechei o livro querendo acreditar que, sim.
Zenatti, Valéri. Uma Garrafa no mar de Gaza. Editora Seguinte, 212. 122 pág.