Como uma única decisão errada, sem nenhuma importância em si, poderia ter consequências tão catastróficas? Fechou os olhos. O cansaço arrastou-se por seu corpo. Seus pensamentos deslizaram do presente para as trilhas emaranhadas no mundo dos sonhos e das lembranças. Branca como a neve, vermelha como o sangue, negra como o ébano…
p.98
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Após cumprir dez anos de prisão por duplo homicídio, Tobias Sartorius ganha as ruas. Depois de passar tantos anos encarcerado, a única coisa que ele deseja é voltar para casa e rever seus pais. Mas seu retorno não foi como esperava. A propriedade da família estava em ruínas, sua mãe não aguentou o constrangimento de ter um filho assassino e foi embora de Altenhain e todos do vilarejo queriam vê-lo longe dali.Ele já pagara sua divida com a justiça, era um homem livre agora. Mas seus vizinhos não pensavam assim e decidiram fazer de sua vida um inferno. Apesar de toda hostilidade, Tobias resolveu ficar. Não adiantava fugir do passado.
Paralelamente, a inspetora Pia Kirchhoff e seu chefe, o inspetor Bodenstein, estão à frente de dois casos. Uma ossada fora encontrada num antigo aeródromo militar nas redondezas de Frankfurt e uma mulher foi arremessada de uma passarela. Ao investigar os crimes, Pia descobre que os ambos os casos podem estar conectados. A mulher agredida é a mãe de um assassino recém-libertado e a ossada é de uma de suas vítimas. Seria apenas coincidência o crime ter ocorrido após a soltura de Tobias? A inspetora Pia duvidava disso.
Durante a investigação, Pia e Bodenstein percebem que algo estranho está acontecendo. Aparentemente, os moradores de Altenhain não tinham nenhum interesse em remexer no passado e uniram-se num pacto de silêncio. O crime solucionado há onze anos voltou a assombrar a pequena cidade alemã… Ninguém quer colaborar com a polícia. Mas esse empenho óbvio para ocultar informações, desperta ainda mais o interesse dos inspetores.
Apesar de ser um caso concluído, Pia decide analisar os autos do processo de Tobias Sartorius. O julgamento fora baseado em provas contundentes, porém circunstanciais. Havia alguma coisa errada ali...
Mas o desaparecimento de mais uma garota faz com que todos suspeitem novamente de Tobias.
A investigação se transforma numa corrida contra o tempo. Cada minuto se torna crucial… a diferença entre a vida e a morte de uma jovem inocente.
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Branca de Neve Tem Que Morrer, é o quarto volume da série policial Bodenstein & Kirchhoff escrita pela autora alemã Nele Neuhaus. Cada vez mais encontro séries, principalmente no gênero policial, publicadas fora de ordem. Esse romance é mais um exemplo disso. Entretanto, o livro é independente. Não percebi referências a crimes ou casos que foram resolvidos em livros anteriores e nem informações relevantes sobre a vida pessoal dos protagonistas. O leitor não corre o risco de esbarrar em spoilers.No início, a narrativa se divide em vários focos e sob olhares diferentes. Essa abordagem me deixou um tanto confusa, pois são muitos personagens e eventos introduzidos em um curto espaço de tempo. Porém, as informações logo se convergem e as coisas começam a clarear. A história é muito bem escrita. A narração em terceira pessoa e os vários pontos de vista, permitem que o leitor acompanhe o desenrolar da trama por ângulos diferentes.
Além da investigação policial, a autora também explora a vida particular, o psicológico e os conflitos emocionais dos personagens. Neuhaus cede uma atenção especial aos detalhes; descrevendo o ambiente de forma que o leitor consiga sentir a atmosfera do cenário e os costumes de pequenos vilarejos – mostrando a cumplicidade e conivência existente nessas comunidades.
O enredo de Branca de Neve Tem Que Morrer estabelece relação entre eventos ocorridos no passado e suas repercussões no presente. Uma história onde nada realmente é o que parece ser.
O mais interessante é que, apesar de ser um thriller policial, não encontramos cenas violentas. O enredo é voltado à investigação policial, às conspirações, segredos, mentiras e na busca da verdade. Nele Neuhaus mantém o leitor envolvido do início ao fim através de um enredo repleto de mistérios e reviravoltas, e não usando de artifícios para impressionar. Adorei o fato de a autora dar uma resolução a todos os temas levantados, inclusive aos que se referem à vida particular dos personagens.
Branca de Neve Tem Que Morrer foi o título escolhido pelos leitores na enquete de Dezembro. Um romance policial excelente. Ótima pedida para os fãs do gênero.
Neuhaus, Nele. Branca de Neve Tem Que Morrer. Jangada, 2012. 470 p. (Bodenstein & Kirchhoff, Vol.4)