Sempre
achei que mulheres que continuavam levando adiante um relacionamento
violento e abusivo só podiam ser umas idiotas. Afinal, em algum momento
elas deveriam ter percebido que as coisas tinham saído errado e que, de
repente, haviam passado a sentir medo do parceiro – e, sem dúvida, era
este o momento de terminar a relação. Deixá-lo sem pensar duas vezes,
foi o que sempre pensei. Que motivo elas teriam para continuar? E eu já
vira mulheres na televisão ou em revistas dizendo coisas como “Não é tão
simples assim”, e eu sempre pensava, claro que é, é simples, sim –
apenas vá embora, afaste-se dele.
Somando-se a esse momento de percepção, um momento pelo qual eu já passara, notei que se afastar não era uma alternativa simples, afinal de contas.
p. 191
Somando-se a esse momento de percepção, um momento pelo qual eu já passara, notei que se afastar não era uma alternativa simples, afinal de contas.
p. 191
~~~*~~~
Catherine
Bailey é uma jovem bem-sucedida e que está no controle de sua vida.
Aproveita sua liberdade de solteira com entusiasmo, sai todas as noites
para beber e dançar coma as amigas, frequenta festas badaladíssimas e
tem uma vida sexual ativa. Até que, na entrada de um pub, ela conhece o
sedutor e misterioso Lee Brightman. Ele é o sonho de qualquer mulher:
atencioso, carismático e lindo. Todas as suas amigas o acham perfeito e
gostariam de estar em seu lugar. Parecia bom demais para ser verdade.
Com o tempo, porém, o homem gentil se transformou numa pessoa controladora e opressiva. Cada vez mais amedrontada pelo jeito intimidador de Lee, Catherine decide que é hora de romper o relacionamento. Mas ela não encontra apoio em suas amigas, pois ninguém acredita que Lee seja um cretino.
Sentindo-se isolada e absolutamente só, Cathy decide que é hora de fugir. Mas é nesse momento que o terror tem inicio…
Quatro anos mais tarde, Lee está na prisão e Cathy leva uma vida solitária e assustadoramente traumatizada. Obsessivo-compulsiva, está sempre se sentido insegura e amedrontada. O TOC transformou as tarefas mais simples do cotidiano em um martírio, como passar horas confirmando se as portas e janelas estão trancadas e sofrendo ataques de pânico quando não consegue cumprir de forma meticulosa sua rotina de verificações.
Mas
as coisa começam a mudar quando seu novo vizinho, Stuart, a incentiva a
procurar ajuda e a enfrentar seus temores. Ao lado de Stuart, Cathy
começa a acreditar que existe uma chance de voltar a ter uma vida
normal. Até que um telefonema muda tudo…
~~~*~~~
No
Escuro – romance de estreia da britânica Elizabeth Haynes – foi uma
leitura angustiante. Cathy sofre de TEPT – transtorno de estresse
pós-traumático – o que a levou a desenvolver também o TOC, cuja
principal característica é a presença de obsessões e compulsões.
Geralmente, histórias que descrevem personagens com paranoias, manias e rituais que se repetem exaustivamente no transcorres do livro, me enervam. Porém, o foco de No Escuro não é o distúrbio psiquiátrico de Cathy, e sim, o que desencadeou tal problema e sua luta em vencer a doença. Aos poucos vamos conhecendo os porquês, e percebemos que os medos de Cathy são justificáveis. Eu também me tornaria paranoica se tivesse passado pelo trauma físico e psicológico descrito no livro.
Geralmente, histórias que descrevem personagens com paranoias, manias e rituais que se repetem exaustivamente no transcorres do livro, me enervam. Porém, o foco de No Escuro não é o distúrbio psiquiátrico de Cathy, e sim, o que desencadeou tal problema e sua luta em vencer a doença. Aos poucos vamos conhecendo os porquês, e percebemos que os medos de Cathy são justificáveis. Eu também me tornaria paranoica se tivesse passado pelo trauma físico e psicológico descrito no livro.
O texto é escrito de forma contínua - sem divisões por capítulos –, sendo que a história se intercalada entre o passado e o presente da protagonista. A narrativa de Haynes é intensa e muito envolvente, com uma carga psicológica que mantém as emoções do leitor à flor da pele do início ao fim. Não só pelas descrições do TOC, mas pela tensão gerada pelos relatos do passado de Cathy – quando ela se vê envolvida em um relacionamento abusivo.
Assim, o leitor tem a oportunidade de conhecer a protagonista em dois momentos de sua vida… o antes e o depois de Lee Brightman. Sob o olhar de Cathy, vemos como uma mulher espontânea e radiante se transformou numa pessoa cheia de fobias.
Lee
é aquele tipo de homem que sabe conquistar uma mulher, mostrando-se
gentil, interessado e com uma lábia doce feito mel. Mas que aos poucos
invade sua vida, se torna possessivo e controlador. Num primeiro
momento, Cathy sentiu-se dependente de sua presença, mas quando decidiu
que era hora de dar um basta, ela não conseguiu livrar-se de Lee. A
história é repleta de detalhes que impossibilitam uma ação efetiva por
parte de Cathy – falta de apoio das amigas, sua instabilidade emocional,
e o fato de ninguém acreditar em sua história. Lee inspira confiança –
tanto por causa de sua profissão, como pelo seu jeito amável em frente a
outras pessoas. Até que a situações foge do controle e o inevitável
acontece…
Então, Cathy se torna uma pessoa temorosa, com a compulsão de checar incessantemente as trancas das portas e janelas. Ela não se alimenta direito, dorme mal e não consegue se livrar da constante presença de Lee em sua mente. É terrível, desesperador.
A trajetória da protagonista em
busca de uma qualidade de vida melhor é muito inspiradora. O livro não é
somente sobre amor doentio, relacionamentos abusivos e problemas
psiquiátricos. No Escuro é também um relato de luta para vencer
obstáculos, recomeço e conquista.
Um thriller psicológico que me absorveu completamente, ao ponto de sentir toda tensão transmitida por Cathy. No Escuro é daqueles livros que nos prende por horas a fio. Leia, porque vale muito a pena.
Haynes, Elizabeth. No Escuro. Intrínseca, 2013. 336 p.