(…) O senhor vai atacar um exército com 160 homens!
— Não: vamos trucidar um exército – respondeu o príncipe. — Com a ajuda de Deus, de São Jorge e da Gasconha! O príncipe se inclinou na sela e bateu na mão do captal. — Vá com Deus, senhor, e lute como o diabo.
— Nem o diabo luta como um gascão, sire.
O príncipe gargalhou.
Sentia cheiro de vitória.
p. 391
— Não: vamos trucidar um exército – respondeu o príncipe. — Com a ajuda de Deus, de São Jorge e da Gasconha! O príncipe se inclinou na sela e bateu na mão do captal. — Vá com Deus, senhor, e lute como o diabo.
— Nem o diabo luta como um gascão, sire.
O príncipe gargalhou.
Sentia cheiro de vitória.
p. 391
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O jovem monge estava sozinho e tinha apenas uma mensagem consigo. Tinham-lhe
avisado que talvez não encontrasse o homem a quem ela era endereçada caso não
viajasse naquela mesma noite.— Le Bâtarde move-se depressa, disseram-lhe.
Le Bâtarde era como o arqueiro inglês e líder dos hellequins, Thomas de Hookton, era conhecido. Depois de um dia de caminhada, irmão Michael o encontrou…
A mensagem era de seu senhor, o Conde de Northanpton. Ele e os hellequins deveriam estar preparados para se unirem ao príncipe de Gales no verão, cujo exército estava devastando o sul da França. Mas não era apenas isso que a mensagem dizia: Ele deveria encontrar um tesouro dos Sete Senhores Negros do Inferno, uma espada mágica… La Malice. A lenda dizia que a espada era amaldiçoada, mas aquele que deveria governar iria encontrá-la e seria abençoado.
Assim, uma corrida pela espada que um dia fora empunhada por São Pedro estava em curso. Tanto os ingleses quanto os franceses desejavam La Malice, pois ela traria a vitória para aquele que a possuísse.
Thomas está decidido a encontrá-la e evitar que caia em mãos erradas. Ele sabe que a ganancia é capaz de cegar os homens, e nem mesmo os que servem à igreja estão livres da tentação do poder. Principalmente, o Cardeal Bessières, que ainda não esqueceu suas desavenças com Le Bâtard e anseia por vingança.
Mas a busca de Thomas não será fácil, antes de recuperar La Malice ele terá que enfrentar poderosos inimigos, escapar de seus perseguidores e sair ileso do campo de batalha.
O sucesso de sua missão pode traçar o destino do conflito, e Thomas sabe que não tem escolha… ele deve lutar pelo que acredita ou ver todos seus esforços ruírem.
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Antes de tecer meus comentários preciso esclarecer algumas informações
desencontradas que estão sendo divulgadas em relação ao livro. 1356, épico
histórico de Bernard Cornwell, tem como protagonista Thomas de Hookton – mesmo
personagem que participa da Trilogia "A Busca do Graal": O Arqueiro, O Andarilho
e O Herege. Por esse motivo, algumas pessoas – equivocadamente – estão
considerando 1356 o quarto volume da série do Graal. Quem leu a trilogia sabe
que isso não é verdade, pois a empreitada de Thomas pelo Graal foi concluída no
último livro da trilogia. Portanto, 1356 NÃO é uma sequência. É um livro independente, com
Thomas de Hookton como protagonista, e só.Já que é um livro independente, eu posso lê-lo fora de ordem? Antes mesmo de ler ou terminar a trilogia "A Busca do Graal"? Infelizmente não, pois 1356 é repleto de spoilers do último livro da trilogia, além de revelar seu desfecho, ou seja… o destino do tão procurado Graal. Agora, se não há interesse em ler a série "A Busca do Graal", 1356 pode ser lido sem problemas, pois Cornwell consegue situar bem o leitor na trama.
Então, vamos ao que interessa... 1356 começa aproximadamente 10 anos após os eventos ocorridos em O Herege. Thomas está com sua fama de arqueiro ainda mais consolidada. É o líder dos hellequins e ficou conhecido por toda França como Le Bâtarde – o bastardo. O livro tem como pano de fundo os ataques do exército inglês por toda França – comandados pelo príncipe de Gales, Eduardo – posteriormente conhecido como O Príncipe Negro –, culminado na batalha de Poitiers.
Entremeado aos acontecimentos originados pelas investidas de Eduardo no território francês, Cornwell coloca mais uma relíquia no caminho do arqueiro Thomas de Hookton. Dessa vez, nosso herói deve encontrar a espada de Pedro – O Pescador, que foi usada para defender Cristo no Getsêmani – aqui chamada de La Malice. Apesar dos quatro evangélios mencionarem Pedro pegando uma espada, La Malice é fictícia – uma invenção de Cornwell.
Thomas, agora mais tarimbado em relação aos interesses da igreja, está mais crítico sobre o uso das relíquias pelos líderes religiosos. Ele aceita procurar a espada, mas sua intenção não é a que todos imaginam. Quem leu O Herege sabe o que Thomas pretende fazer.
A escrita de Cornwell é espetacular. O autor consegue mesclar ficção e fatos históricos de maneira instigante e sem perder a fluidez. Não há meias palavras em sua narrativa, ele descreve as batalhas e o sofrimento humano de forma pungente, com todos os detalhes sórdidos. Quem já leu algum livro de Cornwell sabe que as descrições de suas batalhas são repletas de mal odores, visões inquietantes e sensações incomodas. É justamente essa falta de escrúpulos na narrativa que me faz adorar os livros de Cornwell.
O desfecho de 1356 é bem amarrado, sendo que o autor não deixa pontas soltas ou um gancho para continuação. Mas nada impede que Thomas de Hookton volte numa nova aventura. Confesso que sou apaixonada por Thomas, e eu adoraria ler mais livros protagonizados por ele. Recomendadíssimo!
Cornwell, Bernard. 1356. Record, 2013. 420 p.