Acho que eu não vou gostar nada disso. Acho que vai doer.
Mas talvez
depois da dor eu consiga fazer uma coisa boa e forte e bonita de tudo isso.
p. 167
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Sinopse: No mundo de Caitlin, tudo é preto e branco. Qualquer coisa entre um e outro dá uma baita sensação de recreio no estômago e a obriga a fazer bicho de pelúcia. É isso que seu irmão, Devon, sempre tentou explicar às pessoas. Mas agora, depois do dia em que a vida desmoronou, seu pai, devastado, chora muito sem saber ao certo como lidar com isso. Ela quer ajudar o pai – a si mesma e todos a sua volta –, mas, sendo uma menina de dez anos de idade, autista, portadora da Síndrome de Asperger, ela não sabe como captar o sentido.
Caitlin, que não gosta de olhar para a pessoa nem que invadam seu espaço pessoal, se volta, então, para os livros e dicionários, que considera fáceis por estarem repletos de fatos, preto no branco. Após ler a definição da palavra desfecho, tem certeza de que é exatamente disso que ela e seu pai precisam. E Caitlin está determinada a consegui-lo. Seguindo o conselho do irmão, ela decide trabalhar nisso, o que a leva a descobrir que nem tudo é realmente preto e branco, afinal, o mundo é cheio de cores, confuso mas belo.
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Passarinha de Kathryn Erskine é um romance delicado, que conta a trajetória
de Caitlin - uma criança de dez anos portadora da Síndrome
de Asperger. Caitlin enxerga o mundo de maneira única, e através de seu olhar
percebemos que aceitar as diferenças e compreendê-las requer força de vontade,
mas não é impossível.Meu primeiro contato com a Síndrome de Asperger, foi ao ler O Projeto Rosie. Mas Passarinha possui uma abordagem diferente.
Para quem não conhece, a Síndrome de Asperger é uma forma branda de autismo que, muitas vezes, os primeiros sinais são ignorados. Muitos portadores possuem, inclusive, QI acima dos índices normais. Algumas características da Síndrome de Asperger, são: dificuldade de socialização, isolamento social, inadequação de comportamentos ou manifestações de ansiedade, depressão ou irritabilidade, e dificuldade em processar e expressar emoções. Também são inflexíveis, por isso prendem-se a regras. (Fonte: Aqui e Aqui)
Em Passarinha, temos um relato sensível de uma garota inteligente, com um enorme talento para as artes, mas que não consegue relacionar-se em grupo. Além de não se encaixar nos padrões de comportamento considerados normais pela sociedade, Caitlin enfrenta um trauma familiar. Mas como lidar com algo que causa sofrimento a outrem, se ela mesma não consegue sentir empatia? Caitlin tem plena consciência de que é diferente. Aos poucos, torna-se mais maleável e tenta encontrar uma maneira de encaixar seu “mundo” dentro do “universo” das pessoas que a rodeiam. Sua dificuldade em interagir, associado ao desejo de compreender a si mesma e ao próximo, é algo inspirador.
Minha única ressalva é em relação à “Nota do tradutor”. Logo no início do livro, a tradutora explica as alterações que foram necessárias realizar na narração, devido ao jogo de palavras de múltiplos sentidos utilizados no texto original. Ela preferiu alertar o leitor no início do livro, ao invés de acrescentar notas de rodapé. Porém, durante tais explicações ela solta spoilers que, infelizmente, revelam a causa da tragédia familiar de Caitlin e a essência da trama. Então, deixo aqui um alerta: se você não gosta de saber de antemão detalhes do enredo, deixe para ler a nota do tradutor após a conclusão do romance. Mas acho importante que a nota seja lida, pois há informações muito interessantes sobre o simbolismo das palavras usadas no texto.
Enfim, Passarinha é um livro que transmite uma mensagem muito singela de superação e de que todos podemos criar laços, independente de nossas diversidades.
Erskine, Kathryn. Passarinha. Valentina, 2013. 224 p.