Não há vilões autoproclamados, apenas regimentos de santos autoproclamados.
Historiadores vitoriosos decidem de que lado estão o bem e o mal.
Nós
abjuramos rótulos. Lutamos por dinheiro e por um orgulho indefinível. Políticas,
ética, moral, tudo isso é irrelevante.
p. 105
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sinopse:
Durante tempos imemoriais, o Dominador e a Dama, o mais poderoso casal de
feiticeiros já visto, governaram todo o mundo conhecido com mão de ferro. De
maneira implacável, eles venceram todos os seus oponentes e corromperam a alma
de seus dez piores inimigos, transformando-os nos Tomados, seres condenados a
servi-los por toda a existência. Contudo, um grupo rebelde, liderado pela
misteriosa Rosa Branca, conseguiu aprisionar os tiranos e seus seguidores em um
sono profundo.
Porém, séculos depois, a Dama e os Tomados finalmente foram despertados.
Agora, eles estão decididos a recuperar todo o poder que lhes fora tirado. À
medida que se dedicam ao processo de reconquista, o caminho de um deles, o
Apanhador de Almas, cruza com o do grupo de mercenários conhecido como Companhia
Negra. Por várias gerações, a Companhia serviu a diversos senhores, sempre
honrando seus contratos e prosperando.
Contudo, esses dias de glória ficaram no passado. Hoje, o grupo se resume
a um pequeno contingente que trabalha para o governante de uma ilha isolada.
Tudo o que restou foram histórias, preservadas com afinco por Chagas, o médico
da Companhia, que registra todas as suas atividades. Dessa forma, quando o
Apanhador oferece a eles a chance de se juntar ao exército da Dama contra os
rebeldes, a proposta é aceita de imediato.
O que era para ser uma gloriosa batalha pelo poder rapidamente se revela
um pesadelo. Os Tomados são figuras repulsivas que lutam constantemente entre
si, e a Companhia logo se vê enredada em intrigas, traição e manipulação. Em
meio aos rumores cada vez mais fortes de que, em algum lugar, há uma criança que
é a reencarnação da Rosa Branca, Chagas, os olhos e ouvidos do grupo, começa a
questionar a própria participação nos eventos. Por mais forte que seja seu
fascínio pela figura da Dama, ele não consegue deixar de pensar que, no fim das
contas, a Companhia pode ter escolhido se aliar ao lado errado do conflito, e
que as consequências dessa decisão podem ser terríveis.
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A Companhia Negra é o primeiro volume da série As Crônicas da Companhia Negra
de Glen Cook. Publicado originalmente na década de 1980, o livro é considerado
um clássico da literatura fantástica. Com uma atmosfera sombria e uma
ambientação épica/medieval, a história transporta o leitor para um universo de
magia, sombras e batalhas sangrentas.
A Companhia Negra é um grupo de mercenários, milícia formada por homens cujo
valor moral flerta com a integridade e a desonra. Sua lealdade é frágil, pois
aliam-se a quem paga mais pelos seus serviços. O enredo não possui uma
abordagem maniqueísta – onde o bem e o mal são forças absolutas e ocupam lados
opostos –, pelo contrário, aqui os personagens são muito humanos e capazes tanto
de atos nobres como duvidosos.
Glen Cook não ganhou minha simpatia logo de início, a história tem uma
evolução lenta, meio arrastada por aproximadamente 1/3 do livro. Narrado em
primeira pessoa, é sob o olhar de Chagas – médico e o cronista que registra as
façanhas da Companhia – que acompanhamos as conquistas e desventuras da
Companhia Negra. A escrita de Cook é simples e com poucas descrições, o que
torna a ambientação rasa. Particularmente, achei que o autor peca pela
brevidade.
Os períodos são fragmentados, com frases curtas, sentenças enxutas demais e
poucos detalhes. Sabe aquela escrita curta e grossa, aos “soquinhos”? Claro, que
essa impressão não me acompanhou durante toda a leitura, mas ocorreu com
frequência suficiente para incomodar. Entretanto, com o transcorrer do livro eu acabei me acostumando
com o estilo narrativo do autor.
A saga possui dez volumes publicados. Uma boa pedida para os fãs de fantasia
épica.