"Eu não sou uma máquina. O que uma máquina pode saber sobre o aroma da relva molhada de manhã ou sobre o som de um bebê que chora? Eu sou a sensação do calor do sol sobre minha pele; sou a sensação da onda fria que se quebra de encontro ao meu corpo. Sou os lugares que nunca vi, mas que posso imaginar quando meus olhos estão fechados. Sou o sabor do hálito de outra pessoa e a cor dos cabelos dela.Você zomba da pouca duração da minha vida, mas é o próprio medo de morrer que instila vida dentro de mim. Eu sou o pensador que pensa sobre o pensamento. Eu sou a curiosidade, sou a razão, sou o amor e o ódio. Sou a indiferença. Sou o filho de um pai, que por sua vez foi filho de outro pai. Sou o motivo do riso de minha mãe e a razão de seu pranto. Sou uma maravilha e sou capaz de me maravilhar. Sim, o mundo pode ir apertando botões à medida que passa através de seus circuitos. Mas o mundo não passa através de mim. Eu sou o meio pelo qual o universo teve consciência de si próprio. Sou aquela coisa que nenhuma máquina será capaz de fabricar. Eu sou feito disso: de significado."
Bernard Beckett - Gênesis
* O "digno de nota" é uma coluna com excertos - citações literárias que
marcaram minhas leituras.