— Quando se faz algo incomum, as cenas cotidianas se tornam… Digamos que se tornam ligeiramente diferentes do normal. (…) Mas não se deixe enganar pelas aparências. A realidade é sempre única.
p. 18
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Sinopse:
Apesar de um estranho aviso do taxista, que diz que as coisas à volta dela se tornarão estranhas ao fazer algo tão incomum, Aomame segue a sugestão inicial. Após descer a escada de emergência e seguir seu caminho, ela repara aos poucos que certos aspectos da realidade se tornaram diferentes…
Em paralelo, o professor de matemática e aspirante a escritor Tengo se envolve em um misterioso projeto de refazer um romance escrito por uma menina de 17 anos. Apesar do receio em assumir o papel de escritor fantasma de Crisálida de ar, um livro fantasioso e enigmático mas cheio de pequenos defeitos, ele se convence a realizar a tarefa. Mas, para isso, deve conhecer antes a autora, uma estranha jovem chamada Fukaeri.
À medida em que as histórias vão se alternando, Aomame continua a perceber diferenças sutis na realidade. Ela se dá conta que, ao descer a escada de emergência da via expressa, passou de alguma forma a habitar um mundo discretamente distinto – que acaba batizando de 1Q84. Já Tengo, aos poucos, passa a reparar em estranhas semelhanças entre a ficção fantasiosa de Fukaeri e a realidade, além de cogitar que sua história pode estar de fato acontecendo – e suas consequências estão prestes a ser percebidas…
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O primeiro livro da trilogia 1Q84 de Haruki Murakami foi uma leitura interessante e, ao mesmo tempo, bizarra. Iniciei a leitura cheia de expectativas, principalmente devido a inúmeras resenhas positivas que li, e o livro não me decepcionou.A história se passa em 1984 e a narrativa é alternada entre Tengo e Aomame. Dois personagens que, a princípio, parecem levar vidas distintas e distantes, mas que aos poucos descobrimos que estão conectados. São nos pequenos detalhes da narrativa, no esmiuçar da vida de ambos, que o leitor ligará os fatos. Aliás, o autor destrincha o passado e o presente dos protagonistas de maneira exaustiva em algumas passagens. Há momentos que o ritmo do livro se torna lento, principalmente pelas descrições minuciosas. Isso pode representar um problema para leitores mais afoitos.
Tengo é um professor de matemática e um aspirante a escritor de romances. Acompanhamos Tengo no projeto que lhe é apresentado, reescrever A Crisálida de Ar – um romance cuja autoria é de uma adolescente disléxica e por esse motivo foi mal escrito. Ao se envolver com o livro e com a jovem autora, ele começa a cogitar a possibilidade da história de A Crisálida de Ar ter um fundo de verdade. E é nesse ponto que o personagem se vê desafiado pela razão.
Aomame é a personagens mais interessante, pelo menos para mim, pois sua personalidade está baseada em princípios contrapostos. Percebemos claramente um choque moral em sua rotina. Carrega lembranças de uma educação religiosa rígida, mas possui condutas contrarias as leis morais e sociais.
Enquanto Tengo parece viver em um mundo real, vemos Aomame entrar num universo diferente… uma realidade paralela, talvez? Ela percebe mudanças ao seu redor, pois a realidade que conhecia sofreu alterações. Mas ela não sabe como foi parar ali, o porquê do mundo ter mudado. Então, ela chama essa nova realidade de 1Q84, pois ela entendeu que não está mais no ano de 1984 que conhecia.
O mais interessante foram as dúvidas que me acompanharam durante a leitura. Será que essa realidade paralela realmente existe ou tudo não passa de alucinação? Seria possível várias pessoas imaginarem o mesmo universo? Ou estamos lendo uma história dentro de outra história?
A trama é interessante, desafiadora e diferente dos livros de fantasia que estamos habituados a encontrar, porém o autor dá muitas voltas, fornece detalhes extensos e nada esclarece. Fechei o livro com muitas questões e poucas respostas. Estou ciente de que se trata de uma série, porém o autor encerra o livro enquanto o enredo está em pleno desenvolvimento. Parece que ele escreveu uma história maior e decidiu dividi-la para diminuir o número de páginas. O fim abrupto e sem um gancho para continuação é frustrante.
Aqui faço um parênteses, fica óbvio para o leitor que 1984 de George Orwell exerceu uma forte influencia nesse livro. Murakami faz várias referências e inclui citações do clássico em sua obra. Para quem leu a distopia de Orwell, 1Q84 terá um colorido diferente, com certeza a história será bem mais interessante.
Enfim, o universo criado por Murakami causa certa estranheza, mas ao longo da leitura vamos conectando os eventos apresentados e percebemos o quão intrigante é a história. São as excentricidades que o enredo apresenta que tornam 1Q84 um livro que vale a pena ser conferido.