Uma característica da condição humana é que todos pensamos que somos singularmente complexos, ao passo que os outros são mais fáceis de compreender. Não é verdade, claro. Todos têm seus sonhos, esperanças, vontades, desejos e mágoas. Todos têm um tipo próprio de loucura.
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Enquanto refugiava-se em um retiro para escritores, Jake Fisher conheceu Natalie Avery – o amor de sua vida. A atração foi imediata, eles se apaixonaram e durante três meses viveram um romance ardente e inesquecível. Foram os meses mais felizes da vida de Jake…
Até que um dia, Natalie rompe o namoro e anuncia seu casamento com um ex-namorado, Todd. Jake não entende o que está acontecendo, pois sabe que Natalie também o amava.
No dia do casamento, Natalie faz Jake prometer que os deixaria em paz e que nunca mais voltaria a procurá-la. Assim, ele mantém sua promessa… por seis anos.
Em uma tarde, enquanto cumpria sua rotina de trabalho, Jake se depara com a notícia da morte de um ex-aluno – Todd Sanderson. O mesmo homem que havia se casado com Natalie. Agora, manter a promessa não parecia mais fazer sentido e decidiu comparecer ao funeral de Todd para prestar suas condolências à viúva.
No enterro, Jake é surpreendido por algo bizarro… A viúva de Todd não é Natalie. Seria possível que aquele Todd fosse outro homem, que ele tenha se confundido? Intrigado pela estranheza da situação, Jake resolve procurar Natalie, mas não encontra nada a seu respeito na internet e redes sociais. Então, procura informações na cidade próxima ao retiro onde a conheceu. Mas todos agiam como se Natalie nunca tivesse existido… ninguém lembrava-se dela. Agora, sua curiosidade havia se transformado em preocupação. Onde estaria Natalie?
Decidido a encontrá-la, Jake tenta rastrear os passos de Natalie. Quando vê que sua vida está em risco, ele percebe que se envolveu numa teia de segredos e mentiras. Jake não imaginava o quão perigoso poderia ser procurar uma pessoa que não quer ser encontrada.
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Não é nenhuma novidade que Harlan Coben é um exímio contador de histórias de mistério e suspense. Geralmente, seus enredos são ardilosos, cheios de surpresas e reviravoltas. Entretanto, essas características não foram bem empregadas em Seis Anos Depois.
Confesso que o livro não se mostrou muito motivador. Apesar do mistério apresentado ser interessante, o enredo possui uma evolução linear, sem grandes reviravoltas ou elementos inesperados. Na verdade, a história gira em torno da busca de um homem pela mulher que foi a paixão de sua vida, ou seja, o que impulsiona a trama é o amor. Na esteira dessa premissa, Jake – nosso protagonista – se depara com uma rede de mentiras e segredos.
O tema tinha tudo para dar certo, mas não funcionou comigo. Vários fatores contribuíram para enfraquecer a trama. No início do livro, o mistério é instigante e nos faz devorar as páginas. A confusão de Jake, sua frustração e determinação em descobrir a verdade me deixaram ansiosa. Todavia, o desenvolvimento do enredo tornou-se repetitivo, inverossímil, previsível e repleto de elementos estereotipados. Nem parece que foi escrito por um autor tarimbado como Harlan Coben.
Jake é apenas um professor universitário, então é de se esperar que toda investigação esbanje amadorismo. Além dele se achar a única pessoa apta a encontrar Natalie, em poucos dias ele segue pistas, deduz, faz conexões e descobertas que nem a polícia foi capaz de fazer em anos. Aparentemente, basta muita teimosia, xeretar onde não é chamado, recusar ajuda de agentes da lei, não ouvir conselhos e estar disposto a arriscar a própria vida e a de pessoas próximas para ter sucesso em uma investigação.
O que me incomodou também foi o modo como as decisões do protagonista transmitiram uma ideia de leviandade e presunção. Mesmo ciente de que sua busca está ameaçando a vida de Natalie, Jake continua a investigar sem medir consequências. Há uma contradição nessa postura que me deixou inquieta. Que sentimento deturpado é esse que o faz querer encontrar Natalie a qualquer custo, mesmo que o preço a pagar seja a vida da mulher que ama?
O desfecho é clichê, digno de um belo romance, mas não de um thriller. Eu “matei” a charada do que realmente havia acontecido com Natalie no terço final do livro. A história termina com todas as peças encaixadas, explicadas e arrematadas, mas a solução apresentada para o problema de Jake e Natalie é frágil e deixa brechas para questionamentos. Foi decepcionante, pois esperava mais engenhosidade de Harlan Coben.
Não me entendam mal, o livro não é de todo ruim, mas também não põe à vista elementos que o destaque. Mesmo com todos os “poréns”, acredito que Seis Anos Depois pode agradar leitores que procuram um suspense mais leve, que flerta com o romance e entretenha sem grandes esforços.