Grande parte depende de você acreditar em mim, mais do que é
justo esperar de você. Eu admito que com tanta coisa em risco é tentador
explorar nossa relação e brincar com suas emoções. (…) Por essa razão, você não
deve pensar em mim como sua mãe, mas como Tilde, a acusadora.
Não se deixe
abalar! Seja objetivo. Este é seu único dever hoje.
p. 30
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Sinopse:
Daniel se prepara para correr para a Suécia, no primeiro voo
disponível para o dia seguinte. Antes que ele possa embarcar no avião, seu pai
contatá-lo novamente com uma notícia mais assustadora: sua mãe foi liberada do
hospital, e ele não sabe onde ela está. Em seguida, ele ouve de sua mãe: “Tenho
certeza que seu pai falou com você. Tudo o que o homem lhe disse é uma mentira.
Eu não sou louca. Eu não preciso de um médico. Preciso da polícia. Estou prestes
a embarcar em um voo para Londres. Encontre-me no aeroporto de Heathrow”.
Pego entre seus pais, e não tem certeza de quem acreditar ou em quem confiar, Daniel torna-se juiz e o júri disposto de sua mãe quando ela diz-lhe um conto urgente de segredos, de mentiras, de um crime horrível e uma conspiração que implica o próprio pai.
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A Fazenda – lançamento de Tom Rob
Smith no Brasil – foi um livro que despertou meu interesse assim que li sua
sinopse. Quando soube que seria publicada outra obra do autor de Criança
44, aclamado romance policial cujos direitos foram adquiridos para uma adaptação
cinematográfica, A Fazendo entrou disparado para minha lista de desejados. Bem…
as expectativas eram altíssimas e, infelizmente, o livro não conseguiu
atingi-las.
A estrutura narrativa não colaborou para que a trama me
envolvesse. Ficamos diante de dois personagens, onde um exerce o papel de
narrador e o outro de ouvinte – que reflete e analisa a história que está sendo
contada. Dois terços do livro são focados em relatos de eventos que ocorreram no
passado e suas possíveis repercussões. Confesso que achei o andamento da
história lento e maçante a maior parte do tempo. O que ameniza a sensação de
morosidade são os capítulos curtos e enxutos que o autor escreveu.
Em
contrapartida, meu interesse foi aguçado pelo mistério em torno de Tilde.
Durante seu relato, foi impossível não questionar sua sanidade mental e o quanto
de sua história era real.
Há um forte
componente psicológico e emocional envolvido na trama. Aliás, o enredo coloca em
xeque a credibilidade de Tilde. De um lado temos a
personagem afirmando a existência de uma conspiração para desacreditá-la, e de
outro, personagens que tentam provar seu desequilíbrio emocional e mental. Sua narração é tão febril que nos
convence de que todas as suas suspeitas possuem um fundo de verdade. Entretanto,
ao longo da história, suas desconfianças sem fundamentos, sua fixação em achar
que todos estavam contra ela e que um crime terrível estava sendo encoberto,
minaram totalmente minha fé. Cheguei a conclusão de que Tilde, definitivamente,
não batia bem.
Daniel, nosso ouvinte cujo papel era inferir sobre os
fatos apresentados e julgá-los, me pareceu um personagem fraco e de caráter
influenciável. Apesar de
entender que Daniel estava “entre a cruz e a espada”, de ter sido apresentado a duas
versões da mesma história, fiquei com a impressão de que ele nunca acreditou nos relatos de Tilde. A cada “prova”
apresentada Daniel já tinha algo em mente para contestá-la. Por outro lado, esse
foi o papel que o autor planejou para ele, pois só assim o leitor poderia
refletir e decidir em quem acreditar.
O desfecho foi ao mesmo tempo previsível e surpreendente para mim. Eu vislumbrei qual seria a conclusão de Daniel, porém não imaginei a causa e a motivação de todo o mistério. Foi um bom final.
A Fazenda é um thriller psicológico mais denso, com uma narração minuciosa e paulatina. Acredito que os fãs de suspenses bem planejados e que não priorizam a presença de ação, irão apreciar o livro. Vale a pena conferir pelo seu estilo incomum e clima perturbador.