“Dain sorveu a doçura de Jessica com sofreguidão. Ele estava seco, ardente, e ela o acalmava e o inflamava ao mesmo tempo. Ela era a chuva fresca, e também uma taça de conhaque quente.”
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Em maio de 1795 nascia Sebastian Leslie Guy de Ath Ballister, o quarto marquês de Dain e conde de Blackmoor. Uma coisa verde e enrugada com grandes olhos negros, braços e pernas desproporcionais e um nariz grosseiro e exagerado. Seu próprio pai chegou a cogitar do bebê ser a cria do próprio Satanás.
Ainda pequeno, Sebastian já tinha noção de que era diferente e provavelmente amaldiçoado. Sua mãe o abandonara, seu pai o rejeitava com todas as forças e fora enviado para um internato. Foi hostilizado e ridicularizado por colegas, mas esse tormento serviu para despertar o monstro que havia dentro dele. Tornou-se irascível e conquistou o respeito através dos punhos.
Com tino para os negócios, Ballister galgou sua posição social sozinho. Com a morte do pai herdou suas propriedades, títulos e dividas. Após deixar as contas em dia, partiu para Paris.
Ficou conhecido como lorde Belzebu, um homem que nenhuma dama de respeito ousaria se interessar. Fazia questão levar uma vida de luxuria e depravação. Determinado a desencorajar qualquer possível pretendente, ele se rodeava de prostitutas e desafiava a conservadora sociedade parisiense. Até que um dia ele conhece Jessica Trent...
Acostumado a afastar as pessoas, Dain não entende como uma dama da sociedade conseguiu despertar seu interesse tão prontamente. Ele ainda não tinha plena consciência, mas aquela mulher seria sua perdição…
Jéssica fora para Paris com a difícil tarefa de livrar seu irmão da má influência de lorde Belzebu. Ela é inteligente, desprendida e liberal para sua época. Não se importa com as fofocas e tabus impostos pela sociedade. Considerada uma solteirona, não se deixava abater com rumores e estava decidida a quebrar as regras e ser independe. Mas vacilou diante do diabo em pessoa, aquele homem a deixou de pernas bambas desde o primeiro momento em que o viu.
Jessica não temia Ballister e o enfrentaria sem reservas. Em contrapartida, Sebastian não deixaria que uma mulher o desafiasse. O jogo havia começado… e o embate entre a teimosia de lorde Belzebu e a perspicácia de Jessica resultaria em uma paixão avassaladora.
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Príncipe dos Canalhas de Loretta Chase, é um romance de época despretensioso e muito divertido. A história de Jéssica e lorde Belzebu renderam boas horas de entretenimento.
Bem… o enredo é repleto de clichês. Encontramos o clássico mocinho rico, marcado por traumas, arredio ao amor e depravado; heroína virgem, inteligente, decidida e petulante; desejos avassaladores, conflitos emocionais, obstáculos a serem superados e um vilão louco para azedar a vida dos protagonistas. Tudo isso arrematado com um final de conto de fadas. Mas todos esses estereótipos são deliciosos!
Chase não retrata de forma meticulosa o período histórico em questão, mas contextualiza bem os costumes e convenções sociais da época. A narrativa é muito cativante, uma delícia de ler.
Para mim, o ponto forte do romance são os personagens. Cuidadosamente caracterizados, com personalidades marcantes e repletos de contrastes. Nesse livro somos apresentados a Sebastian Ballister, Marques de Dain, e Jessica Trent. Um casal que anda na contramão quando o assunto é amor e, consequentemente, entrega. Ballister, nosso lorde Belzebu, teve uma infância negligenciada que o tornou um homem inseguro e propenso a acreditar que é desmerecedor de afeto. Assim, ele se arma de astúcia e esconde suas fragilidades sob uma mascara de indiferença e desprezo pelas convenções sociais.
A autora se preocupou em criar uma base para justificar as características dos personagens, especialmente Sebastian Ballister. Sua infância e criação são exploradas no início do livro, mas durante a história a autora nos relembra que as ações de lorde Belzebu são motivadas pelo passado.
Ballister se acha repulsivo, de aspecto desagradável e incapaz de conquistar afeição. Assim, se dedica apenas às prostitutas. Ele se comporta como um patife, mas no fundo não passa de um menino solitário.
Agora, Jéssica Trent está à frente do seu tempo… mulher de brio, forte, independente, liberal, sensível e inteligentíssima. São tantos adjetivos para descrevê-la, mas Jessica é tudo isso e um pouco mais. Por ter convivido com muitos garotos em sua família, Jéssica sabe lidar com os caprichos e teimosias típicas dos homens. Dá gosto de ler os diálogos acres e inteligentes travados pelos protagonistas.
Minha única queixa é em relação à falta de ação e intrigas mais desafiadoras. A autora introduz um vilão “mequetrefe” com um plano frágil e uma ex-amante interesseira, entretanto faltou estabelecer melhor o conjunto de ações ou intenções desses personagens.
Príncipe dos Canalhas pode ser considerado um clássico dos romances de época, pois foi escrito há vinte anos. Uma história leve, com um humor ácido e envolvente. Perfeito para os fãs de romances de época.