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Digno de Nota

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

“O ÚLTIMO REINO” (Bernard Cornwell)

Pensei nas armas seguradas acima do poço de sangue, pensei no deus se agitando em seu palácio de cadáveres para lançar uma benção àqueles homens, e soube que toda a Inglaterra cairia a não ser que encontrasse uma magia tão forte quanto a feitiçaria daqueles homens fortes. Tinha apenas dez anos, mas naquela noite soube o que me tornaria.”
Iria me juntar aos sceadugengan, seria um Andarilho das Sombras.
p. 75
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Sinopse:

Uhtred nasceu na aristocracia do reino da Nortúmbria. Órfão aos 10 anos, o menino é capturado pelos dinamarqueses, que lhe ensinam o modo de vida viking. Só que o destino de Uhtred está inevitavelmente ligado a Alfredo, rei de Wessex, governante do único reino inglês a não se dobrar perante a fúria dos guerreiros do norte.

A luta ferrenha entre ingleses e dinamarqueses e o embate entre cristianismo e paganismo compõem o cenário desta obra de Bernard Cornwell. Aos 11 anos, Uhtred está em dúvida quanto à sua lealdade, mas uma matança em uma fria manhã de inverno o força a se refugiar no lado inglês.

No entanto, seu destino está indissoluvelmente ligado a Alfred, rei de Wessex, e às lutas entre ingleses e dinamarqueses e entre cristãos e pagãos.
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O Último Reino – primeiro volume da série As Crônicas Saxônicas – é mais um épico histórico de Bernard Cornwell que entrou para minha lista de favoritos. Cornwell é mestre em descrever cenas de batalhas, estratégias militares, armamentos de guerra e contextualização política, tornando suas histórias extremamente realistas.

Uma das maiores qualidades do autor é sua capacidade de conseguir amarrar, de forma espetacular, ficção com fatos históricos. Não são poucos os autores que seduziram os leitores com armaduras e espadas, mas Cornwell é genial.

Uma história que explora as invasões vikings, seus costumes e crenças, é atraente demais. Ainda não sei porque demorei tanto para iniciar essa série. Com uma narrativa bem descrita e detalhada, porém com uma linguagem objetiva e acessível – sem ser simplista – o livro é de fácil leitura e muito envolvente.

Aqui conhecemos Uhtred, um garoto que vê sua terra ser invadida, sua família morta defendendo-a e seu lar usurpado. Uhtred foi capturado como refém pelo inimigo. É nesse momento que seu destino dá uma guinada.

No início do livro acompanhamos a história pelo olhar de uma criança, que odeia as lições de leitura, se entedia com as orações e se irrita com as regras que lhe são impostas. Por isso, fica deslumbrado com a liberdade que encontra entre os dinamarqueses. Vivendo sob os cuidados de earl Ragnar, o Intrépido, Uhtred passa a conviver com os dinamarqueses e aprender seus costumes, crenças e maneira de guerrear. Para um garoto, o estilo de vida dinamarquês era muito mais atraente, pois tomavam o que desejavam, cultuavam seus deuses pagãos com liberdade e guerreavam sem medo da morte. Já os saxãos, deviam se submeter, tanto às exigências da igreja como às de um senhor. O menino Uhtred acha mais divertido passar as tardes treinando com a espada, do que estudando e indo à igreja. Nada mais natural.

O choque cultural desencadeiam certas duvidas no garoto. Ele não sabe a quem deve lealdade, aos dinamarqueses que passou a amar ou a seu povo. Cornwell descreve os receios do garoto e seus questionamentos de maneira muito expressiva.

Enquanto cresce, Uhtred descobre seu fascínio pelas batalhas e se empenha para aprender a empunhar uma espada e a lutar. Ele passa a amar Ragnar como a um pai, entretanto não consegue se esquecer de sua terra natal, Bebbanburg, que foi usurpada pelo tio. Ele jura que um dia retomará o que é seu por direito, mas para isso ele precisa se tornar um guerreiro. O conflito emocional do personagem permeia o enredo do início ao fim. Apesar de ter se afeiçoado pelos dinamarqueses e conviver com eles, Uhtred sabe que ali não é seu lugar.

Para Uhtred, sua transformação de menino a homem somente será completa após lutar em uma parede de escudos – a linha de frente de uma batalha. Um dos pontos altos da narrativa de Cornwell são as descrições da parede escudos, simplesmente de arrepiar. Praticamente sentir o cheiro do sangue e do suor, ouvir o tilintar das espadas e compartilhar do medo dos personagens é algo comum quando se lê Bernard Cornwell, porém nunca menos emocionante.

Aqui, abro um parêntese: um dos alicerces de ambos os povos é a fé. De um lado temos as divindades nórdicas, com suas crenças, superstições, presságios e rituais tão enraizados na trama, que se tornam parte dos personagens. Em contrapartida, os saxãos seguem a doutrina cristã. Para quem leu o livro, é impossível esquecer as varetas de runas que guiavam os passos de Ubba, o martelo de Thor que é o amuleto de Uhtred ou as três fiandeiras que traçam o destino de nosso protagonista de maneira caprichosa. Vocês terão que ler para saber o que as três fiandeiras reservaram para nosso guerreiro.

O Último Reino é uma história que fala sobre domínio, vingança, traição e ódio, onde o mais forte subjuga e ao mais fraco só resta resistir sob o fio da espada.
Sou suspeita para opinar, pois sou apaixonada por épicos históricos. Vale cada página lida. Leiam!
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