Pensei nas armas seguradas acima do poço de sangue, pensei no
deus se agitando em seu palácio de cadáveres para lançar uma benção àqueles
homens, e soube que toda a Inglaterra cairia a não ser que encontrasse uma magia
tão forte quanto a feitiçaria daqueles homens fortes. Tinha apenas dez anos, mas
naquela noite soube o que me tornaria.”
Iria me juntar aos sceadugengan,
seria um Andarilho das Sombras.
p. 75
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Sinopse:
Uhtred nasceu
na aristocracia do reino da Nortúmbria. Órfão aos 10 anos, o menino é capturado
pelos dinamarqueses, que lhe ensinam o modo de vida viking. Só que o destino de
Uhtred está inevitavelmente ligado a Alfredo, rei de Wessex, governante do único
reino inglês a não se dobrar perante a fúria dos guerreiros do norte.
A luta
ferrenha entre ingleses e dinamarqueses e o embate entre cristianismo e
paganismo compõem o cenário desta obra de Bernard Cornwell. Aos 11 anos, Uhtred
está em dúvida quanto à sua lealdade, mas uma matança em uma fria manhã de
inverno o força a se refugiar no lado inglês.
No entanto, seu destino está
indissoluvelmente ligado a Alfred, rei de Wessex, e às lutas entre ingleses e
dinamarqueses e entre cristãos e pagãos.
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O Último Reino –
primeiro volume da série As Crônicas Saxônicas – é mais um épico histórico de
Bernard Cornwell que entrou para minha lista de favoritos. Cornwell é mestre em
descrever cenas de batalhas, estratégias militares, armamentos de guerra e
contextualização política, tornando suas histórias extremamente
realistas.
Uma das maiores qualidades do autor é sua capacidade de conseguir
amarrar, de forma espetacular, ficção com fatos históricos. Não são poucos os
autores que seduziram os leitores com armaduras e espadas, mas Cornwell é
genial.
Uma história que explora as invasões vikings, seus costumes e
crenças, é atraente demais. Ainda não sei porque demorei tanto para
iniciar essa série. Com uma narrativa bem descrita e detalhada, porém com uma
linguagem objetiva e acessível – sem ser simplista – o livro é de fácil leitura
e muito envolvente.
Aqui conhecemos Uhtred, um garoto que vê sua terra ser
invadida, sua família morta defendendo-a e seu lar usurpado. Uhtred foi
capturado como refém pelo inimigo. É nesse momento que seu destino dá uma guinada.
No início do livro acompanhamos a história pelo olhar
de uma criança, que odeia as lições de leitura, se entedia com as orações e se
irrita com as regras que lhe são impostas. Por isso, fica deslumbrado com a
liberdade que encontra entre os dinamarqueses. Vivendo sob os cuidados de earl
Ragnar, o Intrépido, Uhtred passa a conviver com os dinamarqueses e aprender
seus costumes, crenças e maneira de guerrear. Para um garoto, o estilo de vida
dinamarquês era muito mais atraente, pois tomavam o que desejavam, cultuavam
seus deuses pagãos com liberdade e guerreavam sem medo da morte. Já os saxãos,
deviam se submeter, tanto às exigências da igreja como às de um senhor. O menino
Uhtred acha mais divertido passar as tardes treinando com a espada, do que
estudando e indo à igreja. Nada mais natural.
O choque cultural desencadeiam certas duvidas no garoto. Ele não sabe a quem deve lealdade, aos dinamarqueses que passou a amar ou a seu povo. Cornwell
descreve os receios do garoto e seus questionamentos de maneira muito
expressiva.
Enquanto cresce, Uhtred descobre seu fascínio pelas batalhas e
se empenha para aprender a empunhar uma espada e a lutar. Ele passa a amar
Ragnar como a um pai, entretanto não consegue se esquecer de sua terra natal,
Bebbanburg, que foi usurpada pelo tio. Ele jura que um dia retomará o que é seu
por direito, mas para isso ele precisa se tornar um guerreiro. O conflito
emocional do personagem permeia o enredo do início ao fim. Apesar de ter se
afeiçoado pelos dinamarqueses e conviver com eles, Uhtred sabe que ali não é seu
lugar.
Para Uhtred, sua transformação de menino a homem somente será
completa após lutar em uma parede de escudos – a linha de frente de uma batalha.
Um dos pontos altos da narrativa de Cornwell são as descrições da parede
escudos, simplesmente de arrepiar. Praticamente sentir o cheiro do sangue e do
suor, ouvir o tilintar das espadas e compartilhar do medo dos personagens é algo
comum quando se lê Bernard Cornwell, porém nunca menos emocionante.
Aqui,
abro um parêntese: um dos alicerces de ambos os povos é a fé. De um lado temos
as divindades nórdicas, com suas crenças, superstições, presságios e rituais tão
enraizados na trama, que se tornam parte dos personagens. Em contrapartida, os
saxãos seguem a doutrina cristã. Para quem leu o livro, é impossível esquecer as
varetas de runas que guiavam os passos de Ubba, o martelo de Thor que é o
amuleto de Uhtred ou as três fiandeiras que traçam o destino de nosso
protagonista de maneira caprichosa. Vocês terão que ler para saber o que as três
fiandeiras reservaram para nosso guerreiro.
O Último Reino é uma história
que fala sobre domínio, vingança, traição e ódio, onde o mais forte subjuga e ao
mais fraco só resta resistir sob o fio da espada.
Sou suspeita para opinar,
pois sou apaixonada por épicos históricos. Vale cada página lida. Leiam!